Há
quem diga, ao analisar os fatos a serem relatados, que o problema da invasão
dos Robôs se antecede aos primórdios da citada civilização quando, por uma
falha devastadora de trajeto, uma frota de naves acabou desembarcando em terras
nunca antes vistas daquela forma.
Mas,
devido a necessidade e complexidade de se relatar os fatos de forma eficaz em
tão curto espaço, farei apenas um recorte mais imediato, no máximo traçando
uma breve e tênue linha de raciocínio que venha deste primeiro erro, para não
dizer erro primário, passando por todos os outros que se seguiram, justificados
ou não pelos anais da história conhecida e desconhecida, desembocando na
singularidade do momento contemporâneo.
Desta
forma, vamos dizer apenas que; por uma evolução lógica de simbioses
consecutivas dos mais diversos tipos e gêneros, na linha de produção de novos e
eficientes auto governantes que se proclamassem assim à custa de força ou de
convencimento dos que comporiam a massa governável, justificativa primária para
a própria existência dos que os conduziam; não se poderia deixar de chegar, dos
biônicos mandatários, aos atuais robôs sectários.
Os
mais eruditos hão de se polarizar, defendendo ou repudiando, mas sempre
relacionando, acerca da mítica e profética filosofia de Gambi Harra sobre as peculiaridades
dos organismos de convívio existentes nestas terras coloridas pela própria
natureza em que os contrastes se dissolvem e se reforçam criando não sínteses,
mas junções funcionais de solução imediata que se tornam permanentes pelos
usos.
O
certo é que, pela filosofia de Gambi Harra ou contra ela, se estiver dando
certo, mesmo que errado seja, não se mexe, até que se prove contrário; para não
dar errado, até que se descubra qual seria o certo primordial que teria evitado
todo prejuízo consequente. Sendo assim, cada vez mais o errado que dá certo foi
feito e criou-se uma verdadeira cultura do “jeito que dá certo”, sendo o
“jeito” não a forma de fazer, mas o artifício usado para fazer com que o errado
se contradissesse, e se tornasse certo.
Essa
formula mágica foi se estendendo para todos os lados de forma tão rápida que,
não fosse vista pela própria cultura que a incentivava, seria impossível de se
compreender. Logo era comum se valorizar tanto a inversão que se mandava para
fora das terras administradas, por todos os meios possíveis e imagináveis, as
melhores mentes para que cometessem erros lá fora, em outras terras. E por
serem erros produzidos por, ou com interferência de, membros exportados destes
locais, facilmente se poderia aplicar o antídoto ao errado dando um “jeitinho”
que o tornaria certo de ser usado por aqui sem os custos de tê-los produzido
inicialmente. Era o princípio de exportação da matéria prima para importar o
produto refugado.
Importando
erros de todos os lugares e “ajeitando” na forma nacional de se viver,
conseguiu-se progressos fenomenais na música, por exemplo, com híbridos como o Rock-sambanejo,
o axé-pagode-funk, o Rap de atitude funk, até se chegar ao máximo de
aproximação da voz que ficara muda, graças aos céus por isso, por tantos anos
com o Funk Favela.
A
aclamação inevitável desse contagioso processo foi quase que unânime em todas
as classes sociais e mídias. A tal “Norma Culta” teve que se curvar
definitivamente ao preceito de que não existe erro, apenas formas diferentes de
se fazer o errado e apenas uma de se fazer o certo. E viva a diversidade
nivelada ao mínimo para poder abarcar a todos os desfavorecidos de alguma forma
e eleva-los ao nível de criaturas desejantes. Esse era o desejo por trás da
revolução calcada nas palavras proféticas de Gambi Harra que garantia cada vez
mais os governantes robóticos que se imiscuíam em todas as esferas de poder.
Não se faz necessário dizer que robôs necessitam de poder para viver, se
alimentam de poder da mesma forma que máquinas não pensantes se alimentam de
eletricidade, outra forma de poder.
Tudo estaria bem se houvesse unanimidade, seja na forma
de poder, seja na forma de conquista-lo, ou ainda, se houvesse apenas um grupo
de interesse, um tipo de robô.
Mas as invasões robóticas ocorreram por todos os lados
nas mais variadas terras e das mais variadas formas, provocando a necessária
disparidade de elementos que se percebe ao aplicar-se variáveis evolutivas a
elementos diferenciados por longo tempo.
Aqui mesmo houve a guerra dos robôs
verdes contra os amarelos, apenas porque uns eram alimentados pela queima de
produtos para gerar energia, enquanto outros eram alimentados pelo uso de
elementos raros e valores subjetivos. Uns queriam petróleo e terras de plantio
e de pasto, outros queriam minérios e papeis de valor. E na guerra de um contra
o outro, na eterna batalha de um para derrubar o outro, surgiram os vermelhos
que queriam ir além, que diziam-se capazes de extrair o poder da biomassa
manipulada adequadamente. E quando verdes e amarelos perceberam, os vermelhos
já haviam se posicionado de forma irredutível em seu lugar abstrato de poder.
Segundo a teologia de Máximus Popularis, aquele que
retira do que retirou de outro o que não lhe pertencia, sem nada em troca lhe
dar, merece ser perdoado sem demora por prazo estipulado que lhe supere a
expectativa de vida. Então, Verdes e Amarelos nada puderam fazer ao ver que
Vermelhos usufruíam à sua maneira do mesmo quinhão que antes lhes pertencera e
que, de certa forma, ainda usufruíam, só que menos.
Apesar disso, estaria tudo bem nesse delicado
equilíbrio, haja vista que um tripé se sustenta melhor que um bípede, ainda que
no tripé lhe falte um dedo de apoio. Bambeia mas faz, e quem não faz? Certo?
Errado. Esse é o problema máximo da filosofia
inversionista de Gambi Harra, quando o errado é certo, o certo é errado; ou
seja, através da evolução natural do erro, surge o defeito congênito. E, por
inevitável justiça que no universo se faça, as coisas evoluem sempre de forma
inexorável até que algum fator lhe altere o rumo ou a intensidade.
Assim, no vácuo de governança que se presenciava, de
forma a garantir que nenhum lado se favorecesse mais do que o já combinado,
alça-se ao mais elevado bastião aquele robô que, se para vermelhos não convence
pela sua incapacidade, para verdes e amarelos se deseja que convença e termine
por se auto destruir inevitavelmente, levando consigo quem apoio deu.
Se as coisas não seguissem os preceitos de Gambi Harra,
já arraigados até o mínimo sustentáculo organizativo nestas terras, teria
dado certo. Um lado apoiaria e controlaria, o outro se absteria e aproveitaria
as brechas, e todos estariam bem. Nada melhor que um robô sem cérebro para ser
o rosto dos mecanismos que o controlavam sem aparecer. A Marionete era o ápice
da evolução dos robôs, estes mesmos controlados à distância por invisíveis
forças, mas pensantes de sua autonomia.
Mas
eis que a Marionete nasceu com defeito, ou melhor, justificou-se completamente
toda a sua evolução defeituosa, e surpreendentemente se tornou inquebrável,
tortuosamente deficiente, e o pior, impossível de ser controlada, ignorada,
direcionada, derrubada, destruída. Eram tantas adaptações malfeitas que se
juntavam em reforços temerários que nem o mais genial projetista conseguiria
descobrir qual o botão que desligava a aberração. A Marionete tinha tantas
falhas que se tornara a prova de falhas, e as provava a todo instante.
Foi então que verdes, amarelos e vermelhos se juntaram
contra o Cinza, antes que cinza se tornasse de vez o padrão. Mas, novamente
pelos princípios já elencados a farta, não se fez o que deveria ser feito de
errado, e tentando fazer o certo, errado se tornou e começaram a aparecer todos
os erros, que certos seriam se não fossem expostos, e todas as amarrações que
sistematicamente foram feitas para se reforçarem mutuamente, começaram a falhar.
E quanto mais os Verdes, Vermelhos e Amarelos tentavam corrigir o defeito do
Cinza, mais a coisa ficava marrom.
E aqui estamos, ainda sem saber como se dará o final,
mas na esperança de que as coisas deem errado para que se tornem certas e não
tenhamos que corrigir do zero todos os acertos que se fizeram pelos erros dos
que, julgando-se acima de qualquer erro, erraram feio.
É o que é, e tenho dito!
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