Chega o momento em que se tem que mandar as estratégias às
favas e rever tudo do zero, e o único momento em que isso acaba acontecendo é
quando todas as coisas parecem estar erradas, ao menos para os brasileiros.
Temos a cultura (errada) de que “em time que está ganhando não se mexe”, e
nisso denota-se dois erros clássicos: 1 – de que tudo funciona como no futebol,
com times e torcidas organizadas (às vezes até mais do que os clubes e
confederações) e 2 – esquecem que é quando o time está ganhando que há espaço
para testar novas possibilidades, não quando está já quase derrotado, no
desespero.
Ok, claro que vou falar (novamente) do “mercado literário
brasileiro” que insisto, não existe de fato, sendo mais um “mercado de nichos”
que realmente um mercado de livros e, não, não vou apresentar novamente os
argumentos a respeito disso. Desta vez vou usar uma estratégia diferente,
dissecar o problema por segmentos e apontar onde possam estar soluções. É claro
que não sei se funcionam, não tenho como testa-las, mas pensem a respeito e me
digam, ou não digam, façam.
Então vamos lá. Em primeiro lugar há na atualidade uma
grande reclamação por parte dos segmentos envolvidos nessa crise de que as
vendas despencaram, ou nem alavancaram, apesar dos esforços. Sei disso porque
tenho contato com várias pessoas do setor e muitos me procuram em busca de
soluções, até testei algumas, mas os resultados neste caso sempre são de longo
prazo. Qual o problema? O que está havendo? Quem ou o que está provocando isso
tudo? É o que pretendo destrinchar neste trabalho.
Vamos começar pelos autores brasileiros. As perguntas que
faço são: Quantos autores brasileiros contemporâneos foram lidos por autores
brasileiros? De que tipo? Só os que já foram consagrados? Autores iniciantes
com novas propostas? Desses, quantos foram divulgados pelos autores que os
leram? Fica difícil querer que haja um mercado quando os próprios agentes do
mercado que poderiam se beneficiar mais, agem como se não existisse. Entenda,
não existe mercado de UM único produto, há sempre a necessidade de uma variação
para gostos, preços, qualidades, etc., e é ISSO que faz com que os segmentos se
formem e o mercado se fortaleça.
Ah, mas autores brasileiros são ruins de se ler. Concordo,
em parte, há uma gama imensa de autores que acreditam que basta o talento e
tudo se resolve. É como se fosse possível arrancar um diamante da terra e
incrusta-lo em um anel e pronto, nenhuma lapidação, nenhuma técnica, só o
“natural”. Tentem fazer isso e o mercado de diamantes vai abaixo em pouco
tempo. São as técnicas de lapidação que tornam a pedra valiosa, brilhante,
eficiente. Então, autores, estudem muito as técnicas, ou guardem o seu talento
para si. E, sim, há muitos autores excelentes, embora na maioria das vezes
desconhecidos do público e dos próprios autores, então, experimentem, vão se
surpreender.
E nisso chegamos ao segundo segmento envolvido, as
editoras. Tudo bem que uma editora precisa vender, mas é preciso ter noção do
que será negociado e como. Houve há algum tempo uma enxurrada de editoras que
nasciam apenas para vender publicações para autores. Qualquer um podia publicar
em um livro solo ou coletânea, bastava pagar e ainda “ganhava” alguns livros
que poderia vender e resgatar o dinheiro de volta. Ótimo negócio, se fosse
combinado com os russos, no caso os leitores, que foram simplesmente deixados
de fora na equação. Quando se tem um produto ruim, pode-se até vender e ter
lucro por algum tempo, mas depois o mercado (leitores) reage e exige uma
qualidade melhor, haja vista como exemplo as lojas de R$ 1,99 que vendiam
qualquer porcaria por um preço baratinho e depois tiveram que subir o preço e a
qualidade ou fechar.
Se as editoras não investem em profissionais de revisão
para trabalhar os textos que, invariavelmente vão chegar com erros de todos os
tipos (desde estilísticos até gramaticais), vão acabar entregando um produto
ruim, defeituoso e vão prejudicar a própria imagem da marca (editora), o que
dificulta as vendas posteriores. Pior, se a editora publica qualquer coisa,
literalmente falando, acaba criando a imagem negativa de negócio que
dificilmente será revertida. Por outro lado, se as editoras investissem em
profissionais de revisão, haveria uma demanda maior por cursos do tipo nas
escolas, haveria mais profissionais qualificados e uma competição saudável por
preços e qualidade do trabalho de revisor que seria benéfico para as editoras e
para os autores, que poderiam contratar esses profissionais para auxiliar no
processo de depuração do original antes de apresenta-los para as editoras, que
então teriam menos trabalho e mais qualidade no material recebido. Não lhe
parece um bom negócio?
Então vamos a outra ponta da equação, as vendas. Sites de
publicação há aos montes, mas todos seguem os mesmos padrões. Colocam os
títulos, os preços e uma resenha curta (na maioria das vezes feitas pelo
próprio autor). Alguns até disponibilizam para os leitores (que compraram)
falar algo sobre o livro e dar “estrelinhas”. Sério?! Alguém volta no mercado
para dizer “este sabão em pó é excelente, dou cinco estrelinhas para ele” e sai
satisfeito de ter dado a sua contribuição para o mercado? O mesmo ocorre com
livros, acreditem. Livros são produtos, precisam de estratégias de marketing,
de exposição, de incentivos ao público para que falem sobre o produto, de
degustação, enfim, todo tipo de coisa que pode alavancar uma venda quando a qualidade
é garantida. Querem estimular os leitores (e não apenas os que compraram no
site aquele determinado livro) a comentarem sobre? Então ofereçam descontos
para quem fizer comentários (sejam quais forem) nos livros apresentados. Ao
mesmo tempo que alavancam as vendas do site (no uso dos descontos), fazem com
que as pessoas se proponham a comentar sobre o produto oferecido.
“Ah, mas eu gosto de livro físico, essa coisa de eBook não
colou não, me perdoem as arvores”. Ok, em primeiro lugar são dois segmentos não
excludentes, ou não deveriam, que exigem estratégias diferenciadas. Um livro
impresso que não é exposto, ou fica em uma prateleira na estante do fim da
loja, dificilmente vai vender, serão arvores derrubadas inutilmente. Que tal
fazer rotatividade nos exemplares apresentados na vitrine? Colocar os menos
vendidos e os mais vendidos, lado a lado? Porque, pense bem, quem vai comprar
dois exemplares do mesmo livro? A não ser para dar de presente. Então se um
livro teve muitas vendas, a probabilidade delas caírem com o tempo é muito
maior, e se você volta à mesma vitrine e sempre estão com as mesmas ofertas
que, provavelmente, você já tem, qual o interesse em parar para ver novamente?
Não seria melhor uma oferta rotativa? Gerar um interesse em buscar aquele livro
que viu na vitrine (e não está mais lá) dentro da loja?
Quanto aos eBooks, eles oferecem a oportunidade de
degustação, que pode alavancar a venda do digital (por ser mais barato, e por
favor, TEM que ser MUITO mais barato) ou até a do físico, afinal com o preço
dos livros é sempre bom poder dar uma olhadinha para ver se é realmente
interessante antes de pagar por ele. Então deveria haver estratégias de
incentivo a essa degustação, estarem disponíveis INCLUSIVE na livraria física,
não apenas nos sites especializados que colocam uma enxurrada de livros de
todos os tipos, com filtros que mais embaralham que ajudam. E se há procura por
um determinado livro, então ele deve ser disponibilizado o mais rápido possível
para o leitor na opção que achar melhor.
Recentemente me perguntaram qual seria a minha estratégia
para fazer uma tarde de autógrafos de um eBook. Achei pertinente a pergunta e a
resposta é bem simples, aliás, dou um exemplo de estratégia de mercado.
Recentemente comprei um pacote de programas de uma empresa famosa mundialmente.
Veio a embalagem e um código que me deu acesso a um site na internet onde pude
instalar os programas e usa-los e, veja que interessante, me ofereceram
vantagens e ofertas para ampliar ainda mais a experiência, caso estivesse
interessado. Então a resposta é simples, em uma tarde de autógrafos de eBooks,
poderiam ser autografadas as embalagens com a capa do livro e dentro o código
exclusivo para acesso ao conteúdo digital em diversas plataformas, além de
poder incluir alguns benefícios exclusivos para quem comprasse naquele evento
específico. Teriam algo físico para marcar, guardar e até dar de presente, e
não alteraria o valor do produto digital. Poderia haver leituras de trechos do
livro junto com o público que poderia acompanhar em seus aparelhos
particulares. E por aí vai, as estratégias são ilimitadas quando há
criatividade e interesse e, como sempre digo, criatividade é o meu negócio, sou
um autor afinal de contas.
Por fim é preciso combinar com os russos, digo, leitores.
Sem isso não há mercado. Como fazer com que o público queira ler mais autores
nacionais de qualidade (sim, é preciso que seja oferecido algo bom, do
contrário toda a estratégia vira o contrário do que deveria, mas isso já
supondo que foram feitos os trabalhos descritos anteriormente aqui mesmo)? Ora,
é igual novela, que faz sucesso porque todo mundo comenta. Mesmo quem diz que
não gosta, sempre dá uma espiadinha nem que seja para poder entrar naquela
conversa em ponto de ônibus, no trabalho, na roda de amigos, nas redes sociais,
etc. De que adianta saber de uma coisa fantástica que não se pode comentar com
ninguém? Trocar experiências e impressões? A primeira lei de Marketing é sempre
a de que um produto só existe se alguém falar sobre ele. Então como fazer isso?
Caso não tenha percebido, apresentei algumas estratégias
nesse sentido ali acima no texto, retorne e leia com mais atenção. Mas não são
as únicas, é possível estimular um mercado criando demanda a partir de soluções
simples. O mercado da moda cria desfiles, diversas lojas contratam modelos para
usarem as roupas que estão acessíveis nas arandelas e as exibem para o público
criando o desejo de ficarem parecidos com as belezas que se apresentam. Na
literatura deveria haver o mesmo. Bibliotecas deveriam, com o apoio das
livrarias e editoras, fazer saraus de leitura de diversos autores
contemporâneos. Escolas deveriam promover encontros do tipo, abertos ao público
em geral e estimular os alunos a participarem (além de poderem atrair público
para os seus cursos). É preciso
desconstruir a coisa de que ler é uma atividade solitária, para poucos e
estranhos seres. Sexo é uma atividade intima e, no entanto, todos falam de
sexo, todos se interessam por sexo, todos têm seus gostos e preferências e,
não, não estou incentivando o sexo em público e coletivo, é apenas um exemplo
de que há atividades que são intimas, mas que produzem experiências que podem
ser compartilhadas de forma saudável e enriquecedora dentro de grupos com os
mesmos interesses, e até abrir possibilidades maiores de experimentação.
Claro que todas as estratégias apresentadas aqui necessitam
de maior elaboração para serem aplicadas, são genéricas por necessidade de
espaço e porque também sou um administrador, quem estiver interessado em um estudo
mais aprofundado, basta me procurar que negociamos um valor razoável e
interessante para ambos. Também sou escritor, professor de técnicas discursivas
e leitor, então todas as estratégias para melhorar o mercado me interessam de
diversas formas. Além disso acredito que, ou se perde tempo dizendo como as
coisas estão ruins, ou se ganha tempo resolvendo a situação.
Gostou? Detestou? Não se cale, compartilhe o texto com
todos os seus conhecidos e amigos, reflitam em conjunto sobre o que foi
apresentado e me incluam no debate, se possível; tenho o maior interesse em
ouvir o que tenham a dizer a respeito. Afinal, crítica é algo bom, mesmo sendo
desagradável de se ler, porque nos ajuda a entender como os leitores estão
recebendo o que produzimos e podemos melhorar o que está ruim e aprimorar ainda
mais o que está bom. E, me perdoem os que pretendem ser autores, se não
concordam com o que foi dito neste último parágrafo, talvez seja melhor
investir em outra profissão. Dizem que a de político está em alta, e não
precisa nem dar bola para o eleitorado o tempo inteiro, só contratar bons
marqueteiros na hora da campanha. Como não tenho estofo para política, então
vou continuar como escritor mesmo, e que venham os comentários. Estou
aguardando você.
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