Olá
amigos do Coluna D2, o único lugar onde a boca é livre, pedimos licença poética
para os usos que normalmente damos a este espaço humorístico para falar de um
assunto sério sem, porém, deixar de cumprir nosso papel de levar a crítica, a
análise dos fatos e a informação da melhor forma que nos cabe.
Esclarecido
de antemão esse importante ponto passamos a comentar a manifestação que ocorreu
em todo território brasileiro no dia 13 de março de 2016, onde milhões de
pessoas foram às ruas pedir uma mudança da situação vigente.
Nossos
repórteres entrevistaram diversos manifestantes e obtiveram declarações no
mínimo importantes. Vamos, por motivos de coerência textual, deixar de lado as
manifestações mais absurdas do tipo “porque não mataram todos em 1964”, “o PT é
o pai da Aedes Aegypt” e outras do mesmo tipo. Vamos nos concentrar nas frases
que, acreditamos, estejam mais de acordo com os sentimentos e pensamentos,
manifestos ou não, do grupo que se reuniu em protestos legítimos.
Frases
do tipo “Chega, não aguentamos mais”, “Fora corruptos”, “A hora da mudança
chegou, fora Dilma, fora PT”, “Nós somos de direita. Direita neles”, e outras
do mesmo tipo, foram as mais amplamente divulgadas e reproduzidas pelos
dirigentes e manifestantes. Porém, quando nossos repórteres perguntavam aos
manifestantes coisas como: “Quem você acha que vai assumir a presidência em
caso de renúncia ou impedimento (impeachment) da presidente?”, “Que mudanças
você quer para o pais?”, ou ainda “O que é ‘ser de Direita’ para você?”, as
respostas que obtivemos foram do silêncio incômodo até uma confusa tentativa de
explicação envolvendo coisas dispares com o conceito, ou ainda, uma solicitação
de outros para ajudar na argumentação, bem como vários casos de “não sei, mas
do jeito que está não pode ficar”.
Como
esta coluna tem o intuito de levar informação com diversão, decidimos explicar
para os manifestantes alguns pontos que talvez não tenham sido bem esclarecidos
pelos organizadores dos eventos. Vamos a eles.
Em caso de
Impedimento da Presidente o que ocorre? A resposta é: Depende.
No caso de apenas a Dilma ser Impedida, assume o vice
Michel Temer, que está indiciado também na lavajato, aquela famosa operação da
Polícia Federal que está investigando os atos de corrupção e que é a principal
fonte da insatisfação com o governo do PT, em particular, o governo Dilma.
Em caso de haver Impedimento da chapa por denúncia no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de atos ilícitos na campanha, são destituídos
Dilma e Michel Temer e assume o presidente da Câmara dos Deputados, atualmente
Eduardo Cunha, também indiciado na mesma operação lavajato, que teria entre
sessenta e noventa dias para convocar novas eleições.
Aqui cabe um adendo importante: Esse quadro descrito
acima só ocorre se o Impedimento for ANTES do final do ano de 2016 configurando,
portanto, menos de 50% de mandato cumprido. Se o Impedimento ocorrer depois de
janeiro de 2017, inclusive, o que ocorre é a chamada Eleição Indireta, aquela
que já registramos anteriormente na história do Brasil e que foi extremamente
combatida para ampliar a democracia e dar ao povo uma representatividade
efetiva. Em caso de Eleição Indireta, o Congresso Nacional assume o caráter de
um Colegiado Eleitoral e define dentre os seus membros quem será o novo
presidente. Isso está previsto na constituição brasileira e quem quiser pode ir
verificar, aqui só estamos dizendo onde está o peixe e quem quiser que o vá
pescar, isso ajuda no processo democrático como o entendemos. Uma rápida
pesquisa na internet deve trazer bons resultados.
O que é ser de
Direita? O termo remete à Revolução Francesa e se estabeleceu porque os que
apoiavam o rei e o regime monárquico sentavam-se a direita do Rei, enquanto os
opositores e partidários da revolução, sentavam-se a esquerda do Rei, no
parlamento. De forma geral costuma-se dizer que a esquerda inclui
progressistas, sociais-liberais, ambientalistas, social-democratas socialistas,
democrático-socialistas, libertários socialistas, secularistas, comunistas e
anarquistas; enquanto a direita inclui capitalistas, neoliberais, econômico-libertários,
conservadores, reacionários, neoconservadores, anarcocapitalistas,
monarquistas, teocratas, nacionalistas, fascistas e nazistas.
Creio que a quantidade de “legendas” permite verificar
que o tema não é tão simples e polarizado como alguns querem demonstrar. É possível
ainda que um grupo mais de “esquerda” assuma posições mais de “direita” devido
a necessidades pontuais e imediatas, sem abandonar o seu discurso geral ou
orientação. O mesmo vale para o lado “oposto”.
Portanto a nossa conclusão acerca de toda a
movimentação política que está ocorrendo, e que teve sua mais midiática forma
até o momento na manifestação do dia 13, está apenas mexendo uma fervura que
não pode ser definida pela polarização que se está querendo vender para o povo
pelos organizadores a favor ou contra. Fica a dúvida sobre quais são os
verdadeiros interesses por trás de toda essa movimentação que se configura no,
assim chamado pelos especialistas, Jogo Político.
Nós da Coluna D2 não defendemos ou apoiamos bandeiras
partidárias porque entendemos que as coisas não se resumem a “palavras de ordem”
ou “discursos de legenda”, é preciso mais informações, principalmente as
históricas, e reflexões para entender que a democracia é boa por permitir que a
diversidade estimule novas formas de ver sob perspectivas diferentes os mesmos
problemas, em busca de soluções melhores que as já apresentadas. Entendemos que
a política é a arte de conviver com as diferenças sem que haja conflitos
desnecessários, mas também entendemos que toda forma de poder acaba por buscar
se blindar contra toda e qualquer oposição que se fizer contra a sua
manutenção, e que quando um sistema começa a usar de manipulação da informação
para se revestir de uma couraça protetora, é preciso curar esse sistema com
doses ainda maiores de informação que permitam novamente o debate racional, com
argumentos sólidos que ajudem a olhar em perspectiva os fatos e, se for necessário,
corrigi-los antes que a “cura” provoque a morte do doente.
Vemos com bons olhos as manifestações pacíficas, sejam
de apoio ou de repúdio ao que está dado, porque representam um engajamento
necessário ao bem-estar coletivo e, nesse sentido, nos sentimos obrigados a
colaborar apontando fatos que acabam por se perder nos embates polarizados, na
tentativa de restabelecer os diálogos que sempre se provaram salutares.
Agradecemos aos nossos leitores pela paciência e pelo
prestigio que dedicam a este espaço e esperamos em breve poder voltar às nossas
atividades humorísticas e críticas, que sempre serão necessárias a evolução dos
diálogos que constroem uma sociedade mais justa e capaz de, reconhecendo os
próprios erros, rir deles, enquanto buscam as soluções necessárias.
Sem mais,
Danny Marks
Editor (Ir)responsável do
Coluna D2
Nenhum comentário:
Postar um comentário