Eu tenho uma história
para contar.
E tenho que dizer que esta história não está onde
normalmente se encontram as histórias. Não está no rascunho de um livro
qualquer, guardado em algum lugar, lido por poucos.
Não está na cabeça como alguns podem imaginar. Nem em
algum mundo hipotético de um limbo existencial que possa haver na filosofia de
quem a buscar.
Esta história não está acumulada no coração, entre uma
batida e outra, pulsando viva em sua ânsia de se fazer ouvir, no silêncio que
possa haver entre as vozes que nada dizem.
Não é tão simples assim que se faça, nem que se deseje
ser, mesmo que desejo se faça. Há histórias que são rudes, são fortes e
grosseiras; é preciso que sejam assim! Não esta.
Esta história está guardada na minha barriga, foi se
formando com tantas palavras que fui engolindo ao longo dos tempos.
Queria poder regurgita-la como um pássaro que alimenta
filhotes com amor armazenado em seu frágil corpo doador de vida e alimento. Não
sou pássaro.
Queria poder digeri-la expurgando o que não fosse
possível transformar em corpo ou energia, fazendo-a correr nas veias com o ímpeto
de um velocista em busca de sua vitória suada. Cavada por entre as dores e a
disciplina, sacrifícios que sempre antecedem as conquistas.
Mas não há forma de digerir o que se acumula em
torrentes; correntes que nos amarram em elos e se transformam em pesos mortos;
obesidades obscenas que nenhum pano a cair fará com que terminem seus atos.
E ainda assim, lá naquele canto esquecido, está uma história
aguardando. Crescendo.
Isso é o que tenho que contar com urgência, antes que me
devore completamente com dentes amarelos. E, quando o fizer, será história.
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