Sem Palavras - Danny Marks

Há momentos que me sinto sem palavras...

Meu mundo se torna pequeno, triste. Paro e penso.

Quando fico sem palavras, não é que elas me abandonaram, tão somente me obrigaram a ver a vida com olhos dos que escreveram, disseram, murmuraram e suspiraram. Todos que se sentiram inundados pela necessidade de transformar o incompreensível em letras alinhadas, versos, rimas, talvez um som ao cair da tarde, acalentando.

Nesses momentos compartilho o outro lado da magia das palavras: ouvir, ler, sentir junto, em conjunto, distante e próximo.

Meu mundo vai ficando maior do que o si mesmo, vai se enchendo novamente de alegria, de pensamentos, experiências sentidas na vida do meu interlocutor.

Assim as minhas amigas e companheiras dão-me outra lição; a de que não precisa ser eu a dizer; não precisa ser eu a escrever; não precisa ser eu a gritar ou murmurar.
Precisa, sim, ser eu a estar atento ao que elas dizem, mesmo quando as escrevo, falo, murmuro ou quando as leio, ouço e reflito.

As palavras são uma ligação que estabeleço com o mundo e, desta forma, ao menos um lado tem que estar atento para as coisas que acontecem.

Sei que posso fazer isso. Posso manter essa ligação e torna-la forte, posso elevar-me acima de mim e atingir lugares e pessoas que conversem comigo, que tornam-me importante nas suas vidas, ainda que suas vidas não existam mais.

Posso aprender a construir um mundo melhor e mais justo, ou apenas viver o que encontrar, aceitar o que se impõe pela eternidade do consenso.

Posso levar conforto e esperança, idéias e pensamentos a vida de pessoas que talvez nunca veja pessoalmente, mas que me conhecem, talvez mais profundamente que eu mesmo.

Sinto as palavras junto a mim, mesmo quando não nascem do meu sopro, oriundas de corações e mentes.

Então me calo, não porque não tenha mais palavras, mas por estar mergulhado em todas as possibilidades que, nelas, me permito ser.

(Danny Marks - 13/05/2006)