segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Sedução - Adélia Prado


A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro,
levanta a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus, me deixa desesperar.
Ela responde passando a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.

2 comentários:

Por Amor disse...

Belo ...sábio e tocante ...gostei muito Pedro Pugliese

Danny Marks disse...

Oi, Pedro,

Adélia realmente sabe como transformar os mais complexos sentimentos em uma bela construção poética, revelando os antagonismos que possam existir na alma de alguém tão sensível.
Não poderia faltar alguém assim no Retratos da Mente, não acha?

Forte Abraço

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