É comum no Brasil falar
que são milhões de técnicos de futebol, ainda mais quando há Copa do Mundo.
Todos opinam, dão soluções, apontam falhas e continuam torcendo para que o
melhor aconteça. Isso é bom? Ruim? Nenhum dos dois, apenas um jeito de ser brasileiro.
Acho que seria interessante se houvesse algo do tipo em relação a literatura
nacional. Como assim? Tá maluco? Um monte de gente dando pitaco sobre o que não
entende? Sério, não entende mesmo? Ainda que não entenda das estratégias, das
dificuldades, de todo o estudo necessário, das cartolagens, etc. Ainda assim,
seria melhor que apenas o desprezo puro e simples, porque movimentaria a
opinião pública, agitaria o mercado, daria oportunidades para um ou outro se
destacar por suas qualidades.
Sou leitor crítico antes de ser autor, ampliei ainda mais
a minha crítica com cursos de escrita, de formação para autores, mas nunca
deixei de ler as obras nacionais clássicas ou contemporâneas, porque é preciso
ver o que está sendo feito por aqui, tanto quanto o que está acontecendo e
funcionando lá fora. Vejo criticas imensas ao mercado nacional de livros (?) e
tenho as minhas conclusões. Livrarias fechando, migrando para a virtualidade
que depende dos correios para distribuição dos exemplares, o que encarece (e
dificulta) o acesso ao livro ainda mais. E a solução que todos encontram para
isso é meio que obvia, é preciso investir no autor nacional, mais barato porque
não tem que traduzir, retrata nossa realidade, tem uma linguagem mais próxima
do nosso dia a dia.
Não vou nem falar que nunca foi interesse de nenhum
governo incentivar a leitura que obriga a uma educação melhor, que faz as
pessoas questionarem mais e com melhores argumentos sobre a realidade,
acostumadas que ficam em acompanhar argumentos estruturados. O que questiono é
o próprio mercado. Não há interesse em formar um público ou há erros nas estratégias
de ganhos? Porque há muitas pessoas ganhando dinheiro com publicações no Brasil.
Gráficas, editoras que publicam os independentes (o autor paga pela publicação
e pela revisão, a editora fica com parte do lucro das vendas), livrarias (que
cobram para simplesmente deixar os livros nas prateleiras). E o leitor? O
leitor que sustente isso ou seja taxado de inculto.
Concordo plenamente com aqueles que dizem que é preciso
investir no autor nacional, há excelentes autores por aqui que fazem sucesso
até mesmo no exterior. Na verdade, boa parte dos que fazem sucesso aqui,
começaram a fazer sucesso lá fora, para depois serem aceitos por aqui. Não é
estranho, afinal foram testados por um publico critico (do estrangeiro) e provaram
que souberam investir nas suas carreiras, na qualidade do seu trabalho. Mas, se
tinham qualidade internacional, porque precisaram fazer sucesso em outros
mercados antes de serem valorizado por aqui?
Porque há muitos autores ruins publicando, na forma
independente há uma enxurrada de publicações sem um mínimo de trabalho, sem
profissionalismo de ponta a ponta. Virou um hobby (caro) publicar no Brasil e
se formou uma indústria de publicações nesse sentido que afastou ainda mais o
publico de autores nacionais. São verdadeiro heróis os leitores que pagam para
comprar livros brasileiros sem conhecer nada do autor, ainda mais quando toda a
tendência de mercado aponta para outros estrangeiros que já vem com marketing
pronto e todo mundo comenta. Quem falaria do Atlético do Barro Vermelho, um
time de várzea que só é conhecido por uns poucos? Quem iria comprar um título
desse clube em que os jogadores têm que pagar a passagem e hospedagem do
próprio bolso quando vão jogar em uma cidade próxima? Mas até nisso o futebol
dá de goleada, porque há olheiros que pinçam os talentos imaturos e os elevam a
categorias de nível internacional.
Claro que nem todos os jogadores vão ser puxados para o
topo, mas ao menos terão mais chance de mostrar o seu talento, e se não forem
os melhores, ao menos poderão continuar se divertindo. E sim, há muitos
problemas até mesmo no futebol de base, mas há mais escolas de futebol
financiadas por clubes de grande porte que há escolas de formação de escritores,
ou alguém discorda disso? Ah, mas há muitos outros esportes que não tem apoio
algum e atletas que não conseguem patrocínio. Concordo plenamente e digo mais,
parece que a “cultura” nacional é formada no sentido de desvalorizar ao máximo
qualquer talento nacional. Por isso há uma fuga imensa de cérebros e talentos para
outros países que apostam desde sempre nas suas bases e conseguem se manter no
topo na economia global.
Basta uma rápida pesquisada para ver brasileiros em
posição de destaque em empresas estrangeiras de tecnologia, em equipes de
pesquisa, em universidades, no cinema, nas artes, na música, nos livros. Isso
porque foram além dos limites de exigência normais para uma competição justa.
Esses brasileiros não apenas tiveram que superar os concorrentes nos postos que
ocupam, tiveram que superar muito mais, antes de poderem concorrer. Escolas
ruins, falta de estrutura, falta de apoio, sacrifícios pessoais e familiares
para poder se manter no rumo e tentar um espaço em um mundo cada vez mais
competitivo, cada vez mais protecionista com os seus ao mesmo tempo que
discursam sobre a “globalização” dos seus produtos.
Precisamos de muitos técnicos de futebol, de leitores
críticos, de alunos exigentes, de agentes de cidadania, porque é dessa forma
que se pode valorizar o que é nosso, melhorar a qualidade para todos,
globalizar de fato o que tem valor e melhorar o nível mínimo do que é oferecido
a um padrão de qualidade justo, pelo preço justo. É claro que sempre haverá os
que falam muito, sem argumentos convincentes, deixe que falem, muito melhor que
não haver ninguém que possa apresentar uma crítica e forçar uma evolução. É claro
que sempre haverá autores ruins, mas deixe que apareçam, que sejam incentivados
pelas criticas com argumentos, que apresentem os seus trabalhos para serem
avaliados pelos consumidores.
Quando as lojas de R$ 1,99 surgiram por aqui, com
produtos importados de péssima qualidade, houve uma movimentação estrondosa de
que isso acabaria com o mercado nacional. Hoje, o que mais se vê nessas lojas
são produtos nacionais, o mercado se ajustou a uma demanda por produtos
descartáveis. Isso é bom? Há controvérsias, algumas bem fundamentadas, mas o
que quero destacar é que muitas industrias nacionais ganharam projeção porque
disponibilizaram seus produtos no meio dessa enxurrada de coisas, demonstraram
que tinham alguma qualidade e até alavancaram suas vendas para posições mais
consolidadas. Aproveitaram as brechas dadas para outros produtos para mostrar
que podiam fazer melhor, pelo mesmo preço. Quantas teriam essa oportunidade antes?
Oportunidade, isso é o que é preciso incentivar, sempre.
Formar uma base cada vez mais qualificada, capaz de ter uma análise crítica
sobre o custo/benefício do produto produzido. E se no meio de um monte de
coisas descartáveis surgir algo que ganhe espaço, ótimo, porque nem todas as
ideias nascem para formar grandes histórias, nem todos nasceram com talento
para seguir uma carreira proeminente, mas é uma perda imensa para a humanidade quando
um gênio é jogado na sarjeta porque precisa pagar as contas do mês e a conta
não fecha. Se vamos globalizar as coisas, é preciso incluir nossos produtos no
cesto, ou então seremos apenas consumidores cativos do que nos querem impor.
E, para quem se interessar, em breve meu romance
distópico brasileiro será lançado aqui e na Europa. E isso é fruto de um
esforço de anos de trabalho e estudo, de tentativas, erros, reformulação de
estratégias e muita persistência. Há trabalhos meus em diversos lugares,
antologias, blogs, sites, publicações independentes, na Amazon, no Google Plus,
em editoras. Alguns podem ser lidos de graça, outros seguem outras estratégias
de mercado. Não espere ser o ultimo a reconhecer o talento nacional, os
melhores resultados são obtidos quando se consegue antever o sucesso. É assim
que se consegue as melhores oportunidades. Pense a respeito, seu futuro pessoal
e profissional depende disso e o Brasil agradece.
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