sexta-feira, 29 de junho de 2018

Cobra de Sarte - Danny Marks


É comum no Brasil falar que são milhões de técnicos de futebol, ainda mais quando há Copa do Mundo. Todos opinam, dão soluções, apontam falhas e continuam torcendo para que o melhor aconteça. Isso é bom? Ruim? Nenhum dos dois, apenas um jeito de ser brasileiro. Acho que seria interessante se houvesse algo do tipo em relação a literatura nacional. Como assim? Tá maluco? Um monte de gente dando pitaco sobre o que não entende? Sério, não entende mesmo? Ainda que não entenda das estratégias, das dificuldades, de todo o estudo necessário, das cartolagens, etc. Ainda assim, seria melhor que apenas o desprezo puro e simples, porque movimentaria a opinião pública, agitaria o mercado, daria oportunidades para um ou outro se destacar por suas qualidades.
            Sou leitor crítico antes de ser autor, ampliei ainda mais a minha crítica com cursos de escrita, de formação para autores, mas nunca deixei de ler as obras nacionais clássicas ou contemporâneas, porque é preciso ver o que está sendo feito por aqui, tanto quanto o que está acontecendo e funcionando lá fora. Vejo criticas imensas ao mercado nacional de livros (?) e tenho as minhas conclusões. Livrarias fechando, migrando para a virtualidade que depende dos correios para distribuição dos exemplares, o que encarece (e dificulta) o acesso ao livro ainda mais. E a solução que todos encontram para isso é meio que obvia, é preciso investir no autor nacional, mais barato porque não tem que traduzir, retrata nossa realidade, tem uma linguagem mais próxima do nosso dia a dia.
            Não vou nem falar que nunca foi interesse de nenhum governo incentivar a leitura que obriga a uma educação melhor, que faz as pessoas questionarem mais e com melhores argumentos sobre a realidade, acostumadas que ficam em acompanhar argumentos estruturados. O que questiono é o próprio mercado. Não há interesse em formar um público ou há erros nas estratégias de ganhos? Porque há muitas pessoas ganhando dinheiro com publicações no Brasil. Gráficas, editoras que publicam os independentes (o autor paga pela publicação e pela revisão, a editora fica com parte do lucro das vendas), livrarias (que cobram para simplesmente deixar os livros nas prateleiras). E o leitor? O leitor que sustente isso ou seja taxado de inculto.
            Concordo plenamente com aqueles que dizem que é preciso investir no autor nacional, há excelentes autores por aqui que fazem sucesso até mesmo no exterior. Na verdade, boa parte dos que fazem sucesso aqui, começaram a fazer sucesso lá fora, para depois serem aceitos por aqui. Não é estranho, afinal foram testados por um publico critico (do estrangeiro) e provaram que souberam investir nas suas carreiras, na qualidade do seu trabalho. Mas, se tinham qualidade internacional, porque precisaram fazer sucesso em outros mercados antes de serem valorizado por aqui?
            Porque há muitos autores ruins publicando, na forma independente há uma enxurrada de publicações sem um mínimo de trabalho, sem profissionalismo de ponta a ponta. Virou um hobby (caro) publicar no Brasil e se formou uma indústria de publicações nesse sentido que afastou ainda mais o publico de autores nacionais. São verdadeiro heróis os leitores que pagam para comprar livros brasileiros sem conhecer nada do autor, ainda mais quando toda a tendência de mercado aponta para outros estrangeiros que já vem com marketing pronto e todo mundo comenta. Quem falaria do Atlético do Barro Vermelho, um time de várzea que só é conhecido por uns poucos? Quem iria comprar um título desse clube em que os jogadores têm que pagar a passagem e hospedagem do próprio bolso quando vão jogar em uma cidade próxima? Mas até nisso o futebol dá de goleada, porque há olheiros que pinçam os talentos imaturos e os elevam a categorias de nível internacional.
            Claro que nem todos os jogadores vão ser puxados para o topo, mas ao menos terão mais chance de mostrar o seu talento, e se não forem os melhores, ao menos poderão continuar se divertindo. E sim, há muitos problemas até mesmo no futebol de base, mas há mais escolas de futebol financiadas por clubes de grande porte que há escolas de formação de escritores, ou alguém discorda disso? Ah, mas há muitos outros esportes que não tem apoio algum e atletas que não conseguem patrocínio. Concordo plenamente e digo mais, parece que a “cultura” nacional é formada no sentido de desvalorizar ao máximo qualquer talento nacional. Por isso há uma fuga imensa de cérebros e talentos para outros países que apostam desde sempre nas suas bases e conseguem se manter no topo na economia global.
            Basta uma rápida pesquisada para ver brasileiros em posição de destaque em empresas estrangeiras de tecnologia, em equipes de pesquisa, em universidades, no cinema, nas artes, na música, nos livros. Isso porque foram além dos limites de exigência normais para uma competição justa. Esses brasileiros não apenas tiveram que superar os concorrentes nos postos que ocupam, tiveram que superar muito mais, antes de poderem concorrer. Escolas ruins, falta de estrutura, falta de apoio, sacrifícios pessoais e familiares para poder se manter no rumo e tentar um espaço em um mundo cada vez mais competitivo, cada vez mais protecionista com os seus ao mesmo tempo que discursam sobre a “globalização” dos seus produtos.
            Precisamos de muitos técnicos de futebol, de leitores críticos, de alunos exigentes, de agentes de cidadania, porque é dessa forma que se pode valorizar o que é nosso, melhorar a qualidade para todos, globalizar de fato o que tem valor e melhorar o nível mínimo do que é oferecido a um padrão de qualidade justo, pelo preço justo. É claro que sempre haverá os que falam muito, sem argumentos convincentes, deixe que falem, muito melhor que não haver ninguém que possa apresentar uma crítica e forçar uma evolução. É claro que sempre haverá autores ruins, mas deixe que apareçam, que sejam incentivados pelas criticas com argumentos, que apresentem os seus trabalhos para serem avaliados pelos consumidores.
            Quando as lojas de R$ 1,99 surgiram por aqui, com produtos importados de péssima qualidade, houve uma movimentação estrondosa de que isso acabaria com o mercado nacional. Hoje, o que mais se vê nessas lojas são produtos nacionais, o mercado se ajustou a uma demanda por produtos descartáveis. Isso é bom? Há controvérsias, algumas bem fundamentadas, mas o que quero destacar é que muitas industrias nacionais ganharam projeção porque disponibilizaram seus produtos no meio dessa enxurrada de coisas, demonstraram que tinham alguma qualidade e até alavancaram suas vendas para posições mais consolidadas. Aproveitaram as brechas dadas para outros produtos para mostrar que podiam fazer melhor, pelo mesmo preço. Quantas teriam essa oportunidade antes?
            Oportunidade, isso é o que é preciso incentivar, sempre. Formar uma base cada vez mais qualificada, capaz de ter uma análise crítica sobre o custo/benefício do produto produzido. E se no meio de um monte de coisas descartáveis surgir algo que ganhe espaço, ótimo, porque nem todas as ideias nascem para formar grandes histórias, nem todos nasceram com talento para seguir uma carreira proeminente, mas é uma perda imensa para a humanidade quando um gênio é jogado na sarjeta porque precisa pagar as contas do mês e a conta não fecha. Se vamos globalizar as coisas, é preciso incluir nossos produtos no cesto, ou então seremos apenas consumidores cativos do que nos querem impor.
            E, para quem se interessar, em breve meu romance distópico brasileiro será lançado aqui e na Europa. E isso é fruto de um esforço de anos de trabalho e estudo, de tentativas, erros, reformulação de estratégias e muita persistência. Há trabalhos meus em diversos lugares, antologias, blogs, sites, publicações independentes, na Amazon, no Google Plus, em editoras. Alguns podem ser lidos de graça, outros seguem outras estratégias de mercado. Não espere ser o ultimo a reconhecer o talento nacional, os melhores resultados são obtidos quando se consegue antever o sucesso. É assim que se consegue as melhores oportunidades. Pense a respeito, seu futuro pessoal e profissional depende disso e o Brasil agradece.

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