Sabe aqueles momentos em que você tem
todas as palavras na mão e não tem desejo nenhum de usá-las? Pode parecer um
paradoxo, uma dicotomia até. Não é. Talvez devesse usar uma interrogação
nessa frase: Não é?
Ela assumiria um aspecto de ironia,
uma pergunta retórica, uma afirmação inquisitiva que não necessita de respostas, porque não é uma pergunta; mas não afirma nada, porque pede uma resposta que não
será ouvida. Um balé sedutor de ir e vir, sem sair do lugar.
Existe uma crueldade latente nisso,
ter todas as palavras na mão e não se ter o desejo de usá-las, diria até que é
uma forma cínica de se lidar com a situação.
De certa forma é triste, como se o seu
melhor estivesse prestes a se entregar, e o guardasse para si. Egoísmo
autorizado porque te pertence o direito de não usar o que tem, de reservar para
si algo que, em si, não terá efeito porque só se realiza quando dividido,
compartilhado.
Dá raiva, não é? Não há retórica aqui,
apenas afirmação.
É por dar raiva que se faz isso, por
desejar a raiva que dá, por não querer nada além da fúria silenciosa do que não
foi entregue, não foi dividido, que se volta para si mesmo.
O desejo de não ter o desejo
satisfeito, de não ir em frente, não por medo, por raiva que se deseja
intensamente.
Claro que pode ser por medo, em alguns
momentos pode haver muito medo, não se sabe exatamente do que, mas sente-se mesmo
assim, fluindo lentamente. Tencionando os músculos.
Ou seria o poder que se possui de não
ceder, de se recusar e represar o que explodiria naturalmente; estancando o
que, preso, morre.
Deixar morrer é ter poder?
Melhor seria exercer o poder de deixar
viver, de não interromper o fluxo.
Isso implicaria uma responsabilidade
com o que deixa, uma corrente que nos liga ao que está saindo, partindo para
nunca mais voltar. Que poderia nos puxar para longe.
Existiria liberdade se houvesse a
necessidade de fazer o que não se está disposto a fazer, mesmo que com isso se
conseguisse apenas a morte do que foi preso? Represado?
A quem pertenceria o que naturalmente
veio e que não se quis usar?
Quem se sentiria obrigado de usar tudo
o que tem? Por obrigação. Que prazer adviria disso? Existe prazer obrigatório?
Desejo e prazer. Um Freud moderno se
resumiria a isso matando definitivamente as alternativas. Imaginar a “não
ação”, o “deixa para lá” que, como lágrimas insatisfeitas no rosto,
simplesmente, não rolam.
E assim, no momento em que todas as
palavras poderiam ser ditas, é apenas o silêncio que vai falar mais alto. Aceita
um Cálice?
(08/10/2007)
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