domingo, 25 de janeiro de 2015

Masmorras de Areia – Danny Marks



               Cadáveres adiados sussurravam seus risos distanciando-se das lápides exuberantes que se enfileiravam desafiadoras frente ao mar.
               Verdadeiros exércitos de condenados fugindo de suas batalhas diárias em um encontro com o útero primordial, estendidos em objetos de culto, semidesnudos corpos protegidos por escudos invisíveis contra laminas douradas que despencam dardejantes, sem clemência.
               Em meio ao tumulto caórdico, que tomava como sua a pátria emprestada, sorrisos duvidosos forneciam suprimentos mitigadores da ausência autoimposta com prazeres artificiais, alimentando ilusões de alegria.
               Os sons aglomerados em meio ao silêncio se contrapondo ao ritmar dos ventos que açoitavam águas indiferentes, engolindo detritos, mastigando-os lentamente e os devolvendo como o regurgitar das grandes feras em seu sono.
               Há tanto a se perder quando nada falta que a escassez se torna valor abstrato de negociações impensáveis em outro lugar que não o campo de batalha, na trégua torpe, no andar pálido, no arrastar indelicado dos momentos.
               Ao longe, como que indiferente às eras que distanciavam este de outros lugares semelhantes, pequenas criaturas empilhavam as úmidas areias do limiar entre mundos compondo enormes poesias aos seus olhos. Edificações que lembravam a quem quisesse ouvir que os grilhões das masmorras aguardavam, mas, enquanto a paz de ouro se fizesse presente, as dores seriam esquecidas.
               Até mim chegavam apenas sussurros de força incomum, seu grito imemorial suplicando uma ordem impossível de decifrar completamente.

               — Vii...vaaaa... viiiiii...vaa... viii...vaaaaaa....

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