Se um autor faz você voltar atrás na leitura, seja de um período ou
de uma simples frase, não o julgue profundo demais, não fique
complexado: o inferior é ele.
A atual crise de expressão, que tanto vem alarmando a velha-guarda
que morre mas não se entrega, não deve ser propriamente de expressão,
mas de pensamento. Como é que pode escrever certo quem não sabe ao certo
o que procura dizer?
Em meio à intrincada selva selvaggia de nossa literatura encontram-se
às vezes, no entanto, repousantes clareiras. E clareira pertence à
mesma família etimológica de clareza… Que o leitor me desculpe umas
considerações tão óbvias. É que eu desejava agradecer, o quanto antes, o
alerta repouso que me proporcionaram três livros que li na última
semana: Rio 1900 de Brito Broca, Fronteira, de Moysés Vellinho e Alguns
Estudos, de Carlos Dante de Moraes.
Porque, ao ler alguém que consegue expressar-se com toda a limpidez,
nem sentimos que estamos lendo um livro: é como se o estivéssemos
pensando.
E, como também estive a folhear o velho Pascall, na edição Globo,
encontrei providencialmente em meu apoio estas palavras, à pág. 23 dos
Pensamentos:
“Quando deparamos com o estilo natural, ficamos pasmados e
encantados, como se esperássemos ver um autor e encontrássemos um
homem”.
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