Matéria publicada originalmente em http://www.oestadorj.com.br/cultura/historias-de-fim-do-mundo , no dia 06/01/2013
Histórias sobre o fim do mundo sempre fizeram parte do imaginário
humano, seja em lendas antigas e mitologias, até a criação da pura
ficção apocalíptica, onde autores viajam na ideia do mundo um dia deixar
de existir. A maioria nesse meio é de autores de literatura fantástica,
onde os apocalipses zumbis e vampirescos são os favoritos em suas
histórias, mas o tema é farto e há para todos os gostos. Após a passagem
do ano 2000, que muitos achavam que seria o fim de tudo, por conta de
algumas crenças religiosas, uma nova data foi agendada para o
apocalipse, 21 de dezembro de 2012, que é o dia que o ciclo do
calendário Maia termina e outro começa. Passado o apocalipse, enquanto
os adeptos a ideia de fim do mundo pensam em nova data, o assunto para
os autores de literatura fantástica continua rendendo ótimas histórias.
Só esse ano vários livros com o tema foram publicados, entre eles está
’2012 – Uma Aventura No Fim Do Mundo’ da autora Vanessa Bosso e ‘ As
Crônicas do Fim do Mundo – A Noite Maldita’ do autor André Vianco.
Também foram publicadas
várias coletâneas de contos apocalípticos, como a antologia ’2013 – Ano
Um’. No entanto, muito antes de 2012 chegar a Editora Andross publicava
sua antologia apocalíptica ‘Dias Contados’, que atualmente tem 3
volumes.
Organizando o fim do mundo
Inspiração para destruir o
mundo não parece faltar entre os autores, mas a motivação de editoras e
organizadores em continuar a publicar histórias do gênero é diferente.
Do ponto de vista de editoras e organizadores de antologia, o fascínio
pelo tema também implica em várias questões e o debate é necessário. Um
dos organizadores do volume 1 de ‘Dias Contados’, escritor e professor
Danny Marks, falou que no início questionou o parceiro na organização,
Ricardo Delfin, sobre a possibilidade de ampliar a perspectiva para o
fim do mundo.“Chegamos a um consenso que o melhor seria dar a liberdade
de um final subjetivo, além da possibilidade de um final objetivo. A
ideia era brincar com o que seria um fim de mundo para uma mãe, um
adolescente, para a humanidade, para um relacionamento,” revelou Danny
Marks. “Muitas vezes o mundo como conhecemos termina, uma tragédia
pessoal, mas para as outras pessoas nada aconteceu.” A ideia do livro
partiu do escritor e editor da Andross, Edson Rossatto, que convidou
Ricardo Delfin e Danny Marks para o projeto. Já a ideia de tratar o fim
do mundo não apenas como a destruição do planeta, mas também de forma
metafórica, para ter uma variedade maior de contos, foi algo idealizado
pelos organizadores. Ricardo Delfin fala da busca por diversidade para o
livro, “se tivéssemos optado pela destruição literal, teríamos limitado
a criatividade dos autores e a possibilidade de histórias”. Já a ideia
para a antologia ’2013 – Ano Um’, organizada por Daniel Borba junto com a
editora da Ornitorrinco, Alícia Azevedo, que também é escritora, surgiu
num bate-papo.“A ideia partiu dela”, revela Daniel Borba. Ambos
pensavam na possibilidade de organizar uma antologia de ficção
científica juntos que, em vez de mostrar o fim do mundo, cheio de
catástrofes, invasões alienígenas ou guerras globais, teria a ideia do
recomeço de tudo. Mudando o foco e deixando a causa do fim do mundo de
lado, apresentando apenas o “pós-apocalipse”. Além do ponto
de vista diferente, mesmo com um tema em comum, as antologias também
contam com uma boa variedade de autores e estilos, seja porque a ’2013 –
Ano Um’ conte com autores convidados somados a alguns jovens talentos,
escolhido através de concurso, ou o fato da ‘Dias Contados’ ter apenas
autores selecionados por concurso.
A forma como uma coletâneas
de contos é organizada pode variar, mas o objetivo da publicação sempre
visa ter uma boa variação para alcançar um público maior e não a minoria
habitual de leitores. Variação de gêneros e estilos é importante, pois
há quem goste das clássicas histórias trágicas de fim do mundo, mas
também há vários leitores que buscam as histórias com heróis, que diante
do fim, vão conseguir impedir a destruição de tudo. As mentes dos
autores são uma Caixa de Pandora, como é o caso da autora Ana Lúcia
Merege, que revela ter gostado do resultado da antologia ’2013 – Ano
Um’, livro onde tem um conto. Porém a experiência a inspirou e
atualmente aceitou o convite para ser uma das organizadoras da antologia
pós-apocalíptica ‘Meu Amor é um Sobrevivente’, que faz parte da coleção
Amores Proibidos da Editora Draco. “Achei uma grande sacada,
pois o imaginário dos leitores esteve e ainda está bem focado nos temas
apocalipse e distopia, a partir das discussões em torno do fim do mundo
maia, livros como ‘Jogos Vorazes’, séries sobre zumbis…”, comenta Ana.
“Além de tudo discute-se muito o futuro do planeta, as possíveis
catástrofes que viriam do aquecimento global… Tenho certeza de que
haverá muitos interessados em ler histórias ambientadas nesse tipo de
cenário.”
Quando questionada como
surgiu a ideia do conto para o livro ’2013 – Ano Um’, onde é uma das
convidadas pelos organizadores Alicia Azevedo e Daniel Borba, a autora
fala que logo de cara resolveu desenvolver uma ideia sobre uma
comunidade isolada. Sobre o conto de Ana Lúcia Merege, Daniel
Borba comenta que a autora “apresenta uma sociedade com os mesmos
problemas, mostrando que o ser humano é sempre o ser humano”.Os
principais critérios para a escolha foram a qualidade literária e a
adequação ao tema”, revela Ricardo Delfin. “Líamos todos os contos
recebidos e trocávamos pareceres. Alguns autores eram bem novos na
escrita, então analisávamos também o potencial dos autores e suas
histórias. Quando necessário, trabalhávamos em parceria com um autor
para que pudesse explorar melhor seu potencial, sempre respeitando a
ideia original.”
“Não queríamos apenas um
conto que se ajustasse ao tema e ao formato exigido, era preciso que
fosse o melhor que o autor pudesse oferecer”, completa Danny Marks.
Independente do tema parecido, editores, organizadores e autores
sempre buscam algo diferente para destacar seus livros. Ana Lúcia Merege
fala que apesar do tema pós-apocalipse, o foco de ‘Meu Amor é um
Sobrevivente’ são histórias românticas. “A ideia é mostrar que mesmo em
meio à catástrofe, ao desespero e a condições muito adversas o amor pode
florescer.”
“Enfim, cada autor trabalhou a catástrofe de maneira diferente,” conclui Daniel Borba.
2 comentários:
“A ideia é mostrar que mesmo em meio à catástrofe, ao desespero e a condições muito adversas o amor pode florescer.”
É esta uma ideia a reter neste mundo conturbado e imprevisível.
Um beijo
Concordo com você, Lidia,
embora catastrofes possam sempre ocorrer, temos que continuar acreditando que podemos superar-nos e construir algo bom e duradouro.
beijod
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