-Velha
maldita, muquirana, mentirosa. Vai queimar no fogo do infern!
-Que isso
Mauricio, isso é jeito de falar da sua
avó que sempre o tratou tão bem?
-Tratou
bem uma ova. Eu era o único que
fazia tudo sem reclamar. Jogava o
maldito gamão, acompanhava as orações. Quando completei dezoito anos ganhei um
carro, mas virei motorista particular.
Velha sovina, mão de vaca. Na hora de dividir a empresa foi tudo
em partes iguais.
-Ela
sempre o protegeu de uma maneira especial. Pra ser coerente empregou todos os netos, mas sempre o
favoreceu nas promoções e nomeações.
Vocês são em
quatro portanto o testamento tinha quer ser legalmente justo.
- Seria
justo se não tivesse me prometido
nada. Ela é quem falava de recompensa especial, acabei acreditando.
Grande recompensa, um livro com capa de couro feita à mão, repleto de hinos religiosos e orações pra
tudo quanto é santo.
-Quem
sabe um dia não lhe seja útil. Afinal nunca se deve desprezar a proteção
divina.
(....)
-Mãe,
cadê o pai?
-Tá no sótão, procurando a planta do casarão da Mooca, que foi da sua
falecida bisavó.
-Que
sufoco! Mexer em papel velho, cheios de pó e recordações ruins.
-Olha o
respeito menino, passado tem
lembranças boas também!
(....)
-Doutor,
porque esse acidente vascular cerebral?
Tava tudo tão bem!
-Infelizmente
essas ocorrências não têm explicação.
Com a idade nosso sistema circulatório sofre alterações
naturais. A senhora sabe se ele teve
alguma emoção, ou aborrecimento sério?
(…)
-Que
estranho mano, venha ver isso.A mamãe pediu para eu guardar a papelada que o
papai estava mexendo quando teve o A.V.C.
Olha o que encontrei: um livro
antigo de hinos e orações da nossa
bisavó. A capa de couro está meio
descolada, veja o que tem dentro,
um maço de dólares, deve ter uma pequena
fortuna. Será que foi o papai que escondeu isso ai?
4 comentários:
Danny , é um conto perfeito .
A condição humana fica clara no decorrer dos acontecimentos .
Parabéns . Gostei demais .
Beijos
"- Velha maldita, muquirana, mentirosa. Vai queimar no fogo do inferno!!!
Este conto eu conheço bem a história. rsrsrsrs
Acho que vivi algo bem semelhante.
rsrsrsrsr
Muito bom. Parece até que você me conhece.
Beijos!!!!!
Marisa,
Obrigado, mas este é um texto da Lariel Frota, uma amiga que encontrei nos meus caminhos de letras. É a autora do "Baú de Cassandra" e de várias crônicas presentes aqui no blog.
Tenho certeza que ela vai ficar feliz com o seu comentário.
Beijos Mágicos
Janice,
Acho que todos conhecemos histórias assim. Infelizmente.
Obrigado pela presença
Postar um comentário