Bem, acho
que entendo isso.
Passei
boa parte da vida fugindo de datas comemorativas, simplesmente porque
elas me deixam...confuso.
Em
aniversários devemos ficar felizes?
No natal
devemos juntar todos que gostamos?
No ano
novo devemos renovar as esperanças?
Em
formaturas devemos estar orgulhosos?
Em
batizados devemos sentir a glória da vida se renovando?
Em
casamentos devemos sentir a segurança da responsabilidade e do início de uma
nova etapa?
Em
funerais devemos sentir a perda?
São
tantas dívidas e tão pouco com o que pagar, tantas necessidades dos outros
e quase nenhum respeito ao que realmente necessitamos. Às vezes, apenas ficar
sozinhos e... deixar as coisas acontecerem; até porque
elas acontecem mesmo quando não as queremos, ou mesmo quando as
desejamos de outra forma.
Com quase
cinquenta anos de vida, aposentado, retornando à sala de aula como
professor, engatinhando como escritor, com tantas contas pagas ao longo dos
tempos e tantas outra a pagar; eu me pergunto: E daí?
Com
tantas promessas que se perderam, tantas ilusões que foram desacreditadas,
tantas esperanças que germinaram em outras formas que não as que plantei. E
daí?
Sem saber
quanto tempo ainda resta viver, quais caminhos a seguir, qual a verdade e qual
a mentira que se esconde e das quais eu me escondo. E daí?
E daí se
o sol continua a nascer, dia após dia. Se a dor precede e segue a alegria,
se o dia dos pais é uma data a mais que não torna o dia tão diferente assim?
E daí se
amanhã posso não acordar cedo, ou se acordar tenho um longo dia pela frente. Se
estudar muito só leva a estudar mais, e alguns ganham mais que outros, mesmo
sem merecer?
E daí se
poderia ter feito escolhas melhores quando tinha tempo, mas se não fiz foi por
falta de conhecimento que chegou após ter gasto muito tempo em escolhas erradas;
que só se provaram erradas depois que as tinha feito?
E daí se
há anjos, demônios, magias, ou se tudo não passa de imagens produzidas
pelo cérebro em meio a uma massa gelatinosa e reações
bioelétricas?
O que eu
sei é que a escolha que fiz foi de seguir em frente, e sigo. Enfrentando o medo
e a tristeza, enfrentando a solidão e a multidão, encarando o sol, a lua e as
paredes nuas do quarto. Não por ser a melhor escolha, ou a que trará melhores
resultados para todos; apenas porque é assim que o rio faz, é assim que a
árvore faz, é assim que a vida acontece.
2 comentários:
Dias confusos
de graça alguma.
Gostei do teu conto porque me remete a questão do SER.
Localizo duas questões terríveis naquilo que sentimos como imposto. Um lugar que temos que ocupar, um sorriso que temos que sorrir sem desejo. Deixar de SER, ser impostores. Daí a possibilidade de perda temporária de identidade, a confusão.
Entendo isso embora em relação as datas comemorativas sinto pelo avesso o que o conto relata. Eu festejo os dias que são oficializados para não viver a rotina. A rotina que me obriga, esta sim, a sustentar o que não sou. Então festejo poder festejar, uso a liberdade consentida como oportunidade de viver minha passionalidade e para culturar o que dá sentido a tudo: o Desejo!
Talvez por ter passado muito de minha existência sem poder festejar nestas datas. Enfim. Novas construções sempre são possíveis. Será?
Beijos meus,
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