Há
momentos em que a tristeza bate forte dentro do peito. Pulsa, pulsa, pulsa,
bombeando sensações por todo o corpo.
Hoje
deveria ser um dia feliz, todos estão se esforçando para isso neste momento. Os
sorrisos distribuídos e os desejos envolvidos em laços mágicos, translúcidos.
Mas há
algo dentro de mim que diz que não é bem assim. Há uma música e ela me
toca também, com uma mensagem que fala de coisas que já aconteceram, e ainda
me afetam. É um som que emociona, não sei por que me inunda
completamente, me faz pensar profundamente, me faz lembrar de coisas que talvez
devesse ter esquecido, mas não...
As
coisas não são bem assim. Entre um presente e outro há uma ausência. Entre um
brinde e outro há um desejo insatisfeito. Entre as luzes piscantes há uma
sombra vacilante.
A vida
corre pelas artérias da cidade e nem todos os cantos que percorre estão
completamente ali, nem todos os espaços são satisfatórios para estar, há pontos
obscuros que não consegue alcançar. Eu sei que as coisas não são bem
assim.
Sobrevivendo
a mais um dia, carrego dentro de mim todos que fizeram parte da minha história
e às vezes, quando penso nisso, o peso é excessivo. E a música toca mais forte.
Há
tantos desejos que não encontrarão satisfação, há tanto coisa que ainda precisa
ser feita, há tantas cores nesse momento que não são bem assim.
Então a mágica acontece, a alma se liberta nesse som e ganha o espaço, viaja até as
estrelas onde a eternidade pode ser vista de algum lugar que já nem existe
mais. O tempo se torna acordes que se distanciam na melodia dessa composição
que só tem sentido no conjunto. E aquela nota dissonante se torna a exata
medida da harmonia que me invadiu. Ou, talvez, as coisas não sejam bem assim.
Pode ser
necessário aquele tom mais grave ou o agudo que fere as distancias que não
podem ser alcançadas, mas que nos transportam para outros lugares apenas para
percebermos o quanto pertencemos a este momento. O caminho percorrido e o que
ainda será. E os desejos se tornam projetos, e as perdas se tornam
oportunidades de crescimento, e as dores se tornam memórias de bons momentos
que tivemos com alguém. Porque as coisas... não são bem assim.
E só no
final do livro sabemos se a história foi boa, só quando amanhece percebemos o
tipo de sonhos que tivemos, e na satisfação dos desejos reconhecemos o tamanho
de nossas crenças e a força dos nossos atos.
A vida é
feita de escolhas, tem tons mais alegres e sombras que dão profundidade. Tem
movimento e ritmo e nem sabemos onde a nossa dança vai nos levar antes que a
música termine, mas dançar é o que nos faz feliz, cada um com seu próprio jeito
de se deixar levar pela musica.
As coisas não são bem assim, mas são
tudo o que precisam ser neste momento.
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