Bem vindos amigos do Coluna D2! O único lugar onde a boca é livre. Voltamos
com mais um show de entrevista e desta vez temos o prazer de falar com o
emérito e controvertido Dr Soum Homem, Antropófago Social e Sexanalógico.
— Dr Soum Homem,
obrigado por sua entrevista à Coluna D2.
— Mas eu ainda não
falei nada. Me agradeça depois.
— Nossos ouvintes
gostariam de saber o que o senhor tem a dizer sobre a questão da Sabedoria.
Alguém como o senhor que tem estudado os aspectos mais controversos da
humanidade poderia nos brindar com algumas de suas experiências?
— Em primeiro lugar eu
quero afirmar que isso não passa de uma grande bobagem.
— Como assim, doutor?
— Essa coisa de
“Sabedoria”, isso não passa de uma tremenda bobagem. A sabedoria é apenas o
resultado de se ter sobrevivido a todos os erros que pode cometer. O que tem de
bom nisso? Poderia chamar de “sorte”, “esperteza”, ou qualquer outra porcaria,
mas daria no mesmo.
— Mas então o senhor
não acha que há uma lição em ter sobrevivido aos erros?
— Há, claro que sim. E
pode ter certeza que aquele que consegue jamais vai esquecer. A mãe natureza, e
por consequência a sociedade que ela desenvolveu, garante isso.
— O senhor poderia ser
mais claro?
— Veja os sucessos, por
exemplo. Quanto tempo dura na lembrança de alguém, qualquer um? Você, lembra do
seu ultimo sucesso?
— Sim, claro, foi...
— Não importa.
Provavelmente foi há muito tempo e ainda deve criar algum efeito concreto na
sua vida. Mas pense no seu ultimo erro. Vai ver que se lembra do mais recente
tão bem quanto de todos os outros, e mais, posso afirmar que vai lembrar dos
erros homéricos por toda a sua vida com todos os detalhes, enquanto qualquer
sucesso que tenha será apenas uma memória distorcida, cheia de mentiras para
engrandecer ainda mais a sua participação.
— Bem, é que...
— O mesmo acontece na
sociedade. Se alguém faz sucesso, isso perdura enquanto tiver efeitos práticos,
depois desaparece, vira lenda. Mas os erros, ah, esses são eternos, viram
história. Viram exemplos para serem contados e recontados aos que ainda nem
nasceram.
— Mas o senhor não acha
que isso é bom? Que as futuras gerações podem aprender com os nossos erros?
— Isso é ridículo. Quem
aprende com erros é um idiota. Quando você sobrevive aos erros é que se torna lição.
A vida não se aprende por observação, senão ainda seriamos macacos copiando os
erros uns dos outros na busca pela sabedoria. Alguém corajoso ou imbecil o
suficiente, o que dá no mesmo, faz alguma coisa inédita e se dá mal, mas
sobrevive a isso. É o que ele faz para sobreviver que os outros copiam, não sei
de ninguém que comete os mesmos erros para alcançar as mesmas soluções. E
quando alguém erra feio...
— Os outros podem se
prevenir e criar soluções sem ter errado.
— Que nada, vão ser
massacrados pela multidão que vai garantir que seja objeto de ridículo até
achar outro otário maior. Se ele conseguir se levantar depois disso, aí sim
volta a merecer algum respeito.
— Então o senhor não
acredita na generosidade, na solidariedade humana?
— Claro que acredito!
Sempre que alguém se ferra vai ter um monte de gente rindo e outros dando
apoio, para poderem rir por mais tempo. Se a piada acaba, não tem graça. Se o
imbecil desaparece quem vai criar novas piadas? Você tem que manter vivo o
motivo da piada.
— Então, na sua
opinião, não existe sabedoria?
— Claro que existe, mas
não há mérito algum na sabedoria além do fato implícito na sobrevivência.
Quanto mais velho alguém é, mais pode se dizer sábio. Pelo simples fato de que
sobreviveu, isso exclui qualquer sabedoria dos jovens. Neles o nome passa a ser
esperteza.
— De qualquer forma o
senhor reconhece que a sabedoria é um patrimônio da humanidade.
— Absolutamente. Todos
já nascem com todo aparato para se tornarem sábios e os que sobrevivem por
inteligência, pilantragem ou por qualquer outro motivo, podem almejar o título.
De qualquer forma vão contribuir para que o coletivo siga sobrevivendo. O
importante é que os erros não se tornem uma catástrofe global.
— Por quê?
— Para continuar como
sobrevivente, ora bolas. Errar qualquer um pode, e normalmente o fazem, mesmo que
não saiam divulgando isso por ai. Mas quando um erro é encarado como uma
catástrofe normalmente se pretende que a culpa e a responsabilidade seja
dividida com muitos. É nesses casos que a pirâmide desmorona.
— O senhor conhece
algum meio para evitar os erros?
— Claro, há duas
maneiras. A primeira é não fazer absolutamente nada. Como isso é impossível, já
evita o erro maior de não ter feito absolutamente nada, mas o tanto que evitou
fazer alguma coisa, já impediu de cometer erros.
— E a segunda?
— Seja mais inteligente
do que você já foi até então.
— Ora, se eu soubesse
estaria rico. Ainda estou trabalhando nisso. A questão é que se não tentar não
erra, mas também não acerta. As chances são iguais para ambos lados e se olhar
direito vai ver que há vantagens nisso, basta sobreviver.
—
E com este sábio conselho nós terminamos a nossa entrevista de hoje,
agradecendo ao Dr. Soum Homem que nos brindou com sua presença. Obrigado e até
amanhã com mais um Coluna D2.
—
Ora, contanto que continuem me pagando para vir aqui falar sobre qualquer
bobagem que vocês ou os seus ouvintes achem importante, pode contar comigo. Ah?!
Como assim ainda está no ar...?
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