O amor nos condena:
demoras
mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.
Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.
Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.
Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.
Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.
O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.
Mia Couto, in " idades cidades divindades"
2 comentários:
Amor,
Nunca havia lido este poema do Mia Couto. É belo, profundo,pleno.
Beijos meus,
Amor,
Eu curto bastante o Mia Couto, tem uma poesia profunda, com traços de tristeza e esperança. Creio que se devam a sua história pessoal que passou por momentos bem complicados.
Um autor cresce junto com os seus textos e seus leitores.
Beijos meus
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