
“Quando observamos a
quantidade e a variedade dos estabelecimentos de ensino e de aprendizado, assim
como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar que a
espécie humana dá muita importância à instrução e à verdade. Entretanto, nesse
caso, as aparências também enganam. Os professores ensinam para ganhar dinheiro
e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito que ganham dando a impressão
de possuí-la. E os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir,
mas para poder tagarelar e ganhar ares de importantes. A cada trinta anos,
desponta no mundo uma nova geração, pessoas que não sabem nada e agora devoram
os resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e
apressado, depois querem ser mais espertas do que todo o passado. É com esse
objetivo que tal geração frequenta universidade e se aferra aos livros, sempre
aos mais recentes, os de sua época e próprios para sua idade. Só o que é breve
e novo! Assim como é nova a geração, que logo passa a emitir seus juízos. [...]
Em geral, estudantes e estudiosos de todos os tipos e de qualquer idade tem em
mira apenas a
informação não a
instrução. Sua honra é baseada no fato de terem informações sobre tudo, sobre
todas as pedras, ou plantas, ou batalhas, ou experiências, sobre o resumo e o
conjunto de todos os livros. Não ocorre a eles que a informação é um mero meio
para a instrução, tendo pouco ou nenhum valor por si mesma [...]” (in A Arte de
Escrever – SCHOPENHAUER, Arthur, LP&M, 2012, pgs 19,20)
Poder-se-ia
dizer que a citação acima foi tirada de algum jornal ou outra mídia da
atualidade brasileira, não fosse o fato de Schopenhauer (1788-1860) estar
distante tanto geograficamente quanto no tempo da nossa realidade. Mas, e aqui
começa a parte interessante, guardadas as generalizações e a visão pessoal do
autor, as palavras podem ser transportadas diretamente para o ambiente escolar
da atualidade, para a sociedade acadêmica e os novos alunos, aprendizes dos
saberes.
Aqueles
que tem contato com a dura realidade das salas de aula, públicas ou privadas
deste enorme país de tantas faces e sotaques, sabem que nada é tão preto no
branco como dizem as mais belas teorias pedagógicas, antes sim, as coisas são
cinza e cinzas é o que produzem em sua grande maioria.
De
um lado há profissionais que reclamam de baixos salários, mas boa parte nem
pensa em trabalhar corretamente, de forma ética e competente, buscar
competências que se tornam necessárias à evolução de qualquer carreira, e mesmo
o conhecimento instituído necessita de novas formas de ser transmitido.
Em
outro lado há os sistemas políticos, públicos e privados, com suas belas
campanhas e realidades tortas, obscuras. Cobranças de um lado e apaziguamentos
de outro, dá com uma mão e tira com duas.
Em
outro ainda, os alunos que vão para a escola como refugiados de lares
desfeitos, como guerrilheiros de um campo de batalha urbano, como sábios
informatizados de conhecimento tão volátil quanto a memória Ram que possuem no
lugar de cérebro pensante.
E
por fim, os pais desses alunos, em sua grande maioria esperançosos de dar aos
filhos o que nunca tiveram. Alguns esquecendo de dar, também, o que tiveram, como
educação: limites, formação de caráter, sociabilidade, responsabilidade. Estes valores, sem dúvida alguma os que lhes
possibilitaram serem pessoas melhores e que, por negligência ou qualquer outra
incapacidade consciente ou inconsciente que possuam, deixaram de transmitir aos
rebentos como herança, são os que esperam “alguém” acabe por ensina-los aos seus filhos, "criados para o mundo". Que mundo?
A
responsabilidade deixada de lado gera a impunidade, que gera o caos que não vê
vitoriosos ou derrotados, apenas o que precisa ser destruído e consumido na sua
onda devastadora.
Caos
é, antes de mais nada, a ausência de ordem, de controle, de limites. O Caos não tem senhor ou objetivos a serem
alcançados, existe apenas porque não foi contraposto pela ordem, pelo limite.
E
assim vamos todos nos tornando cúmplices e vítimas do caos que criamos, por
preguiça, negligência ou simplesmente por não querermos ver que não há outro
alguém que fará por nós o que não nos dispusemos a fazer, ao fugir de nossas
responsabilidades em tornar-nos melhores para o mundo para que, por
consequência disso, o mundo se torne melhor para todos.