
Este
é um artigo de opinião, de quem vivenciou e observou de vários ângulos a
chamada “Crise da Educação”. Em primeiro lugar é preciso definir: que crise?
Entre
os especialistas, com ou sem aspas, não há consenso. Uns dizem que é uma crise
do modelo educacional que está ultrapassado, outros que o problema é da
sociedade permissiva e da falta de limites que os pais deveriam impor aos
filhos (para o bem deles mesmos), outros ainda afirmarão que a culpa é do
governo que não quer um povo instruído e que os salários são baixos.
Há
os que digam que a culpa é dos profissionais da educação por não utilizarem
novas técnicas e tecnologias, ainda que a maioria das escolas só disponham da
tecnologia da lousa verde e do giz branco.
Outros
alegam que o grande vilão é o currículo voltado mais para as especificidades
genéricas e não para a formação de cidadãos voltados para o mercado de trabalho
e para a cidadania.
E
enquanto há vários “vilões” possíveis nessa história, culpa-se o governo por
não dar jeito, culpa-se o professor por não se impor e dar limites aos alunos,
culpa-se os pais por não educarem os seus filhos, culpa-se a escola por não se
decidir se deve instruir ou educar, ou ambos, de alguma forma que ninguém sabe
definir como seria. E o inferno continua sendo o Outro.
Talvez
o problema seja tudo isso, de certa forma, e mais um pouco. A crise vai do
baixo salário à mentira de que um professor é um ser especial, mágico, capaz de
formar ou deformar uma nação e que, de alguma forma, não sabe ou não faz uso da
força que possui.
A
crise vai da falta de investimentos na educação porque isso não aparece no
curto prazo das campanhas eleitoreiras, e desaparece rapidamente na memória dos
falsos cidadãos que jamais tiveram uma educação politizada, mais voltada para o
bem comum do que para os interesses próprios, uma imersão no sujeito histórico
de sua própria comunidade, um registro de valores morais que nasce na família e
se estende na escola e na sociedade.
A
crise vai da falta de interesse dos pais, dos alunos, dos professores, do
governo, da sociedade, até a falta de perspectivas verdadeiras, a falta de
interesse em buscar soluções viáveis e aceitar as responsabilidades
individuais, porque educação é construída por todos os agentes envolvidos e não
por indivíduos heroicos salvadores da pátria.
O próprio
conceito de pátria já deveria dar conta disso: Pátria, do latim patriota (terra
paterna), é o lugar onde se nasceu ou se adotou criando vínculos afetivos,
valores culturais, morais e sociais, onde se desenvolveu uma história. Pátria é
o primeiro conceito de educação que se deveria aprender e manter pelo resto da
vida, sendo a base de todo o conceito de quem é o agente da Educação.
A
crise atual da educação é uma crise de paradigma, que começa justamente pela
crise do paradigma de Pátria. Quando o mundo se tornou globalizado, quando se
tornou possível assistir uma tragédia no Nepal com milhares de mortos ao mesmo
tempo que uma partida de futebol na cidade vizinha, ou um casamento em alguma
ilha particular no pacífico sul. Quando o seu quintal se estende até os confins
da galáxia, com imagens das mais modernas sondas espaciais, e no seu bolso
cabem idiotices do mundo todo, transmitidas como notícias importantes de um segundo
de fama.
Aí começa a crise do paradigma da educação. Como preparar para uma sociedade que
se reinventa a cada milionésimo de segundo e que muda de percurso ou de
necessidade com a mesma velocidade, ou pior, que acumula necessidades e
velocidades e percursos e objetivos e certezas e indefinições e...
Quando
os valores se tornam tão relativos que deformam o tempo e o espaço, e a própria
realidade se perde nas incertezas quânticas, na subjetividade do observador que
determina o evento, na possibilidade da Matrix ser uma realidade inventada pela
nossa mente que necessita ordenar o que não pode ser ordenado porque o Universo é caótico. E nem universo é mais, multiverso agora, sem sentido, sem
objetivo, sem relação de causa e efeito, sem ordem. Quando nada mais faz
sentido.
Então,
talvez, esteja na hora de repensar os paradigmas; de atribuir valores possíveis
às incógnitas para poder se alcançar e testar as incertezas; de se repensar
as atribuições e focar os objetivos não como algo determinístico, mas como um
meio para se ir além.
É
preciso se repensar o indivíduo perante a sociedade, a sociedade perante a
comunidade; as responsabilidades perante o seu objetivo em particular e em
relação ao objetivo geral; a pátria em relação à educação e a educação em
relação a formação do Ser e do que podemos nos tornar, se não deixarmos de
buscar culpados e começarmos a olhar, cada um de nós, no que estamos fazendo
hoje para construir o amanhã.