
Se a natureza tivesse inventado um vírus que afetasse profundamente todas as formas vivas, com certeza seria o amor. Provavelmente da família do Influenza.
Ele é totalmente mutante. Cada vez que alguém inventa uma vacina para ele, já se transformou e ataca de novo, de outra forma.
Veja o amor de mãe, o primeiro de todos e que permanece com efeitos secundários por toda a vida.
Ou então o "Primeiro Amor", esse é o mais dolorido, o que devasta mais forte, com crises de choro incontroláveis, cenas lamentáveis de histeria, acessos artísticos inusitados, delírios febris, sonhos molhados e garganta seca; sem falar nos tremores, na gagueira, nas crises de pânico.

Tem aqueles que amam as coisas, como o dinheiro, o carro, a casa. A quantidade de lugares onde foi, ou mesmo bichos e plantas.
Sempre tem um tipo que ataca os mais renitentes.
O sexual, que se envolve de um manto de luxúria e depois se torna devastador; em alguns casos destrói contas bancarias, empregos, vida social, saúde e até mesmo a sexualidade.
Tem o ambicioso, que se espalha por todos os lados, indiscriminadamente, sob a alcunha de fraternal. Quem tem tantos irmãos assim?

Ama-se as coisas mais abstratas, como um time, uma música, uma pessoa. Ama-se até mesmo estar amando.
Em nome do amor se mata o outro e a si para serem felizes na eternidade. A continuidade é deixada em cartas, em tratados, em desejos escondidos que se tornam revelados no porvir.
Não há nada no mundo que cause maior insatisfação. Quando não se tem, deseja-se; quando se tem, quer-se mais; quando termina busca-se outro diferente.
Essa tragédia destrói as individualidades, sistematicamente amalgamadas. A começar pelo próprio nome que é substituído por sinônimos que em qualquer outro estado seriam repudiados furiosamente, mas quando se está amando... ah, o amor!

A humanidade vem lutando contra o amor desde os primórdios imemoriais; até porque o amor não tem memória, se tivesse perceberia danos anteriores e enfraqueceria.
Não há o que possa ser feito.
O remédio seria a indiferença, mas até mesmo isso já foi perdido na escala genética.

Não há o que possa ser feito, basta percebermos que a maior tragédia já ocorreu: a natureza nos ama.
E isso é simplesmente o fim.