terça-feira, 24 de julho de 2012

Onde eu estava com a cabeça? - Danny Marks

Tela: O homem e sua pressa perplexa
Abstrato - 22x25 cm
Baumann (Noite Jack)

Chega um momento em que você para e fica se perguntando: Onde eu estava com a cabeça?
                Isso sempre acontece independente da classe social, grau de instrução, idade, religião, sexo.  Neste ultimo caso é que ocorre bastante. Eu sempre me perguntei onde estava com a cabeça quando fui para cama com a Juliana, aquela gostosa que todos andavam atrás; menos eu, porque estava interessado na Larissa, aquela que deveria ser a mulher da minha vida.
                Deve ter sido uma dessas ironias do destino , essas coisas que as videntes veem nas cartas. Quem lê cartas nestes tempos de email, facebook, essas coisas cult? Eu não.
                Não vi o perfil da Larissa ou teria adicionado ela na minha vida e as coisas teriam sido diferentes. Provavelmente não teria saído para beber com a turma do twitter, happy hour cyber.  Você sabe, combinar com os amigos de tomar uns goles depois do trabalho, um olho no copo e outro no celular, twittando na noite, rindo na mesa, acompanhado de um monte de amigos virtuais espalhados por ai, em algum lugar.
                Hoje todos são celulares de um organismo cibernético que existe na irrealidade virtual das nossas sombras. Um perfil é mais importante que um corpo inteiro, olhar de frente nas fuças do outro. É sempre mais fácil desconectar que levantar da mesa no meio de alguma frase mal dita. A gente não se sente sozinho quando está on line com o mundo, em meio a uma rodada de cerveja, vodka, sakê ou vinho. Cada um bebe o que disser. Na real, até chá vira champagne, tipo assim.
                Absinto faz a gente perder a cabeça, levantar da mesa e se achegar com a garota sentada a esquerda, só para reclamar com ela que o lado esquerdo é do capeta. Sinistra em italiano, tá na net. Coisa do capeta mulher sensual a esquerda, onde deveria estar o coração, tentação que faz a cabeça rodar e os olhos caírem no decote, desastrados.
                Quatro horas de delírio por quatro anos de purgatório, essa é a pena. Dá pena essa sensação de liberdade como se o Diabo estivesse olhando para o lado.
                O tempo voa quando você corre atrás do prejuízo.
A Larissa mudou, e como, de tanto deixar a gente aéreo, virou aeromoça, estrela brasileira no céu azul...
                Onde eu estava com a cabeça quando cheguei em casa e vi aquela coisa atacando a minha gostosa sobremesa, sobre a mesa? Pô, cara, tem coisa que é sagrada, tipo manjar perolado, manja? A gente tem que estar antenado nesses novos tempos, mas ninguém curte essa coisa de perder a liderança da casa de vidro.
                Big brother é o cacete, e que cacete, de quebrar cadeira e não poder sentar mais.
                Eu devia era ter fechado a conta, mudar o meu perfil para outro site, sei lá! A gente corre tanto nessa vida louca que chega uma hora algo atropela pela tangente, indecente.
                Minha vó não tinha website, nem tava ligada na rede. Ela sempre dizia que o que vem fácil, vai fácil. bobagem, você ganha o primeiro instante da vida, mas fica pagando pelo resto dela.
                Onde eu estava com a cabeça quando entrei naquele beco, GPS desligado? Fosse vingança, dava para entender, mas nem isso. Só ironia das cartas em tempos de email, sociedade feito bala, troca perdida, que entra e não sai.
                Agora um monte vai ter que colocar tarja preta na foto.
                Tanto lugar para estar com a cabeça e descansar em paz...

Vidraça - Lariel Frota

O tempo passa,
Pela vidraça
Observo a paisagem lá fora.
A felicidade entra,
Trazida por um raio de sol,
Rápida vai embora,
Deixando no ar a esperança,
Que vai retornar em breve.
A brisa leve,
Faz a folha seca alçar voo,
Então de fato perdoo
O amargurado e seu fel.
Vejo a abelha pousando na flor,
Certeza futura do mel!





segunda-feira, 16 de julho de 2012

Meus Dentes Sorriem – Danny Marks




Não há espaço dentro do ser
agarrado em pleno voo
garras e dentes, ultima prisão.
Incomunicável fotografia.

Na rua, pessoas correm,
entre paredes erguidas sobre patamares,
no ar rarefeito, condicionado alento.
De cima, distante, pequenos a fugir.

Caro é algo tornado raro
Sorriso na cara da gente
Onde estão os meu dentes
que o tempo devorou?

Vazando pela boca, palavras,
Na força, da gravidade, que lhes resta
Solidão no contato da lingua
com dentes, palato e lábios. Gemido.

Lutar não termina no chão
ou na dor pulsilâmine,
mas na submissão ao ditador.
Cala o incomodo interno
faz brotar falso comungar
de silêncio vazio de mim.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Aos Vermes – Danny Marks

(Tela/Arte: Nozal  )

Verme, lagarta, verde,
Ovo expandido, rompido, boca a devorar, devorar
Devorada; encolhida; voando no bico para o bico
Centopéia, epopéia, tragédia grega com pernas
Pêlos, arrepios, ausência suspirada, expirada

O verde já foi
A rosa engolida
Parede, teia, arvore; lugar qualquer
Anda, come, anda, come

Verde verme, verde, vês?
Enclausurada em ovo
Rompido, em cores regurgitadas, o claustro
Lançado no vazio, objetivo, objeto
Dejetos de ovos, sementes de vermes,

O filósofo em sonhos
O poeta no vôo
No corpo tatuagem
Na paisagem, conjunto
Atropelada no vidro
Jaz estampada no negro amanhã
O verme de ontem

Amor de Perdição - Danny Marks


Amor, que emoção
aqui dentro do peito
disparado, sem jeito
feito tiro no coração

Amor que agarra
mordida de cão bravo.
ninguém solta essa amarra
na fé tornado escravo

Amor é de escorrer
feito sangue rasgado
jogado, escorraçado,
dando de si até morrer

Amor feito cigarro
vira fumaça, deixa escarro
Já nasce predestinado
a desgraça dorme ao lado

Amor que constrói
tumulo, mausoléu
O que na vida destrói,
na morte vai para o céu

Intenso, forte momento
arrastando pela vida
enxurrada descabida
no calor do sofrimento

Amputado do coração
membro fantasma
na ânsia de ter, cai no vazio.
Amor de perdição

Sem Título - baumann (NoiTe Jack)

Visto pétalas azuis,
Sou céu pela manhã,
Um beija-flor dourado,
Entre sonhos e dizeres...
À tarde entristeço,
Fico rosa antigo,
Chegam-me lembranças,
Dos sabores da infância,
Dos amores da juventude...
No crepúsculo calo-me,
Surjo em prelúdio silencioso,
Feito forasteiro em terras turvas,
Percebo as nuances dos medos,
Sei que amanhã serei outro,
Você também irá mudar,
O rio segue seu curso,
Os portos ficam para trás,
Outros virão,
Outros...

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