terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Amando estrelas - Lariel Frota


Seria bom visitar estrelas:
Pois  de longe vê-las,
Anda sendo muito pouco.
O cansaço abate o corpo envelhecido,
Vem o sono, quando elas brilham intensas.
Seria bom visitar estrelas:
Juntar o brilho opaco dos sonhos
Chorar muito e agradecê-las
Por serem luz
Por serem eternas.
Por permitirem de longe tê-las,
Brilhantes, viajando livres pelo infinito:
Estrelas...simplesmente estrelas!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

....................


Ela fazia todo mundo pensar que estava certa.
Fazia caras e bocas e no auge dos seus 16, ainda brincava de boneca.
Cortava todos os cabelos delas, pintava as unhas e o corpo, pintava os labios e depois deixava-as num canto, onde ficavam e acabavam sendo esquecidas.
Fumava escondido da mãe e saía cantando pelos cantos da casa, até que se deitava e dormia no sofá, como rotina.

Ela tinha planos pro futuro, que incluíam fazer uma tatuagem, viajar pro Texas e fazer mais alguns furos.
Ela tinha sonho de criança, alma de artista e desejos de prostituta, mas não saía, não bebia, não se abria.....
Juntando tudo isso, algo mais normal hora ou outra apareceria.

Ela gostava de mentir. Mentia pra todo mundo por puro prazer de fazer os outros acreditarem. E não voltava atrás não. E ai de você se duvidasse de uma palavra dela. Ela te convencia até que você levantasse da cadeira batendo o pé pelo que antes você negava com a maior certeza que poderia haver.
Ela tinha olhos penetrantes e era bem inteligente, embora eu nunca tivesse a visto com um único livro na mão. Sabia de tudo e de todos e, impressionantemente, ela (quase) sempre estava certa.

Bom, agora ele deve ter seus cinquenta e muitos anos, mora sozinha em uma casa que não tem nada além de uns lençóis empoeirados, um guarda-roupa caindo aos pedaços e alguns retratos velhos e mofados dentro de gavetas emperradas (ou trancadas).

Nas janelas ela tem roseiras lindas, as quais ela cuida como se fossem o maior amor de sua vida. E talvez até seja. Depois que ela terminou seu último relacionamento, nunca mais a vi com ninguém. Ela, que já não gostava de sorrir, nunca mais expressou qualquer sentimento, a não ser quando abria suas janelas pra cuidar de suas belas roseiras.

Ninguém a conhece tão bem quanto eu, creio que nem ela mesma. Sua casa não tem espelhos e nem luz, apenas algumas velas espalhadas pelos cantos da sala vazia.

Uma vez, estava debruçada na janela, quando um homem que passava pela rua arrancou uma de suas rosas. Lembro-me que na hora pensei em correr na floricultura e comprar outra pra repor antes que ela visse, mas alem dela perceber, iria ficar mais furiosa ainda. Quando ela viu, manteve-se em frente à janela imóvel e pálida. Nenhuma marca em seu rosto, nenhum nada. Parecia que sua alma havia escapado por aquela janela, tentando encontrar sua rosa, mas saiu tão rápido que esqueceu que sustentava um corpo.
Cansei-me da situação e fui deitar. No dia seguinte, quando olhei pela janela, a roseira não estava mais lá. Bati na porta que estava entreaberta, mas ela havia ido. Segundo sua vizinha, ela nunca esteve ali. Talvez ela não fizesse muito barulho... talvez, quem sabe, a vizinha era meio maluca... mas insistiu, tirando uma chave do molho e pedindo que eu a acompanhasse. Ela abriu a porta da casa e a única coisa que havia ali era um piano branco de cauda velho e trancado. A mulher então sentou-se ao piano, virou-se pra mim e explicou que uma mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade. Eu continuava achando que ela era louca. E continuou a conversar, dizendo que há anos ela morava ao lado desse apartamento e que todos que iam comprá-lo não gostavam, até que olhavam pela janela e se apaixonavam mas sentiam-se incomodados de ter um piano tão lindo ocupando metade da sala. Teriam que tirar, mas não queriam.
Ninguém chegava perto desse piano, só ela. E aprendeu a tocar o piano e fez da casa um refugio, pra onde ia quando precisava descarregar toda sua angustia. Mas ela não desenvolvia... que angustia era essa? Mas eu não queria mais saber.

Então, pedi que tocasse uma musica pra mim. Ela sorriu e disse: "você não se cansa, né?"
Fui pra casa, me beliscando o caminho inteiro. Cheguei em casa e passei rápido pela minha janela, mas percebi de canto de olho, que as flores estavam na janela novamente. Voltei e olhei e elas realmente estavam lá. Não só elas, mas ela também estava. Sai de casa, atravessei a rua e fui correndo até sua casa, quando abri a porta. Não havia ninguém além da vizinha, tocando piano, com a janela aberta, sem flores ou vestígio delas.

Sentei-me em um canto e fiquei escutando a musica, até que adormeci. Acordei com meus dedos doendo, abri os olhos e o chão branco estava com alguns pingos de sangue e havia uma rosa. Corri até a porta da vizinha, mas ninguém atendia. Havia me deixado um bilhete na porta: “Uma mentira contada mil vezes torna-se verdade.”
Desci as escadas que davam para a rua, voltei ao meu quarto, olhei em volta e tudo estava em ordem: as bonecas estavam ali, meu cinzeiro, como sempre cheio, meu violão e meu baú cheio de livros, dentro do armário. Não faltava nenhum. tudo parecia estar no lugar.

Mas havia algo faltando no quarto. Eu sabia que havia, só não sabia o quê. E fiquei pensando por horas e horas e intermináveis horas.

Dessa vez, eu estava sozinha com ninguém em volta, partilhando comigo mesma a dor de ser uma mentira.

Eu sabia, eu entendia, mas não conseguia me contentar com só um pouco daquilo tudo.
Uma mentira contada mil vezes torna-se uma verdade. Se a mentira tem pernas curtas, então......

Sonja Szenkier

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Nó de Gravata – Danny Marks


                Ficou olhando aquele pano pendurado no pescoço como se fosse um novo membro que houvesse nascido ali. Há vinte e cinco anos, com uma regularidade quase psicótica, arrumava a tira colorida com voltas, em um nó perfeito. Mas não hoje.
                Agora era uma excrescência, aquele pano-membro depositado sobre o seu pescoço. Não lembrava o que fazer e o susto, da mulher batendo na porta, não colaborou em nada para melhorar o seu humor.
                Abriu um sorriso desconfortável, uma suplica murmurada.
                Poderia me ajudar com isto?
                Não conseguia nem mesmo enunciar o seu problema, como se fosse tão ridículo alguém da sua idade ter um problema. Algo tão simples que nem merecia resposta. E assim ficou.
                Ali atrás da mulher que arrumava o batom e o delineador com perícia como a debochar dele, e magicamente o nó se fez, apertado sobre o pescoço. Limpo, ascético, como de costume.
                Saiu para trabalhar ainda pensando no ocorrido. Qual o problema de esquecer como dar um nó? De qualquer forma conseguira, sem pensar, não é? Quantos milhares de pessoas no mundo todo deveriam ter enfrentado algo assim ao longo do ano?
Não é algo tão grave como esquecer a chave no carro quando se sai do estacionamento, ou o andar em que se trabalha.
Apertou a chave no bolso para ter certeza que a levava consigo, enquanto apertava um número no elevador. Até conseguiu sorrir diante da perspectiva de contar para o sócio a coisa ridícula que acontecera de manhã.
                Mas ao abrir da porta o pânico invadiu o pequeno cubículo de aço polido, fracamente iluminado. Aquelas portas enfileiradas como soldados de um pelotão de fuzilamento. Uma bala aguardando para lhe trazer o fim, mas de que lado?
                Andou lentamente tentando decidir. Estava no andar certo? Qual era o número mesmo? Pensou no nó da gravata. Instinto é algo maravilhoso, mecânico. Com recursos de memória que ultrapassavam a vontade. Fechou os olhos, direita ou esquerda?
                O suor frio já lhe molhava o colarinho impecável. Uma luz no fim do túnel e ele como uma mariposa se sentiu atraído para o ultimo portal. Seu nome lavrado no vidro, claro.
                Sentiu-se reconfortado no ambiente familiar. Tudo arrumado e limpo, um cheiro de lavanda que combinava com o creme de barbear.
                Passou a mão no rosto dando-se conta que pelos haviam crescido. Não lembrava quando havia sido a ultima vez que se barbeara. A lâmina correndo áspera na pele. Sabia exatamente a sensação, o som da torneira ligeiramente aberta, o reflexo no espelho.
Que dia esse?
                Poderia perguntar para o homem gordo que ficava na outra sala, ao lado da sua. Aquela com carpete macio, recém-colocado. A foto da família sobre a mesa ao lado das pilhas de papeis. Parou com a mão na maçaneta. Não podia simplesmente entrar e dar de cara com uma pessoa que não sabia mais o nome. Dar de cara com um estranho.
                Recuou rapidamente e se trancou na sua sala.
Fez uma busca agitada na internet para tentar descobrir o que estava acontecendo com ele. Um lapso de memória ocasional, talvez. Um AVC a caminho? Câncer no cérebro? A garganta seca, apertada em um nó. Que estava procurando?
                Ficou com medo de tirar a gravata, sentir-se mais confortável. E se não conseguisse lembrar mais como coloca-la?
                Faça uma lista das coisas importantes, verifique se no dia seguinte consegue lembrar todos os itens e se acrescentou mais alguns, cantava a tela à sua frente.
                Trêmulo pegou a folha de papel e começou a colocar tudo o que se lembrava daquela manhã.
                Acordara ao lado da, como era mesmo o nome da esposa? A filha, Daiane, lhe pedira dinheiro novamente, como se ele já não lhe houvesse dado na... sexta feira? Para quê mesmo? Sim, para comprar um... uma coisa para ela.
                Isso não estava funcionando. As coisas iam se apagando da sua mente mais rápido que conseguia resgata-las. Melhor ligar para o seu médico, ele deveria saber o que fazer. Assim que encontrasse o número de telefone na agenda que estava sobre a mesa. Não ali, na sua casa. Ele a havia deixado ao lado do celular.
                Ficou tão feliz por ter lembrado disso que até sentiu-se melhor. Stress era apenas isso. Depois de um fim de semana difícil com a família que morava na sua casa.
                Quando fora a ultima vez que tivera um fim de semana bom? Sem ter que se lembrar das contas a pagar; sem ter que concordar com a mulher contra a filha, ou vice e versa?
                Quando fora que sua filha crescera a ponto de não lhe dar mais importância?
                Quando perdera a sua mulher para o salão de beleza? Para as amigas?
                Ficou olhando para o papel que começara a escrever, praticamente vazio, como a sua memória, como se as letras tivessem escorregado para o carpete, perdidas.
                Levantou-se e dirigiu-se para o elevador que descia para o fundo do poço, cumprimentando o Jorge, seu sócio. Nem reparou no computador que ficou ligado, na porta que deixou aberta, o paletó sobre o encosto da cadeira.
                Quando chegou à rua afrouxou o nó da gravata e atirou-a em uma lata de lixo, próxima, sem recordar a cor do nó que lhe apertava a garganta.
                Saiu caminhando feliz como se fosse a primeira vez que andava por aquele calçadão, rumo a um lugar que não sabia qual. Feliz como não se lembrava de estar ha muito tempo.
                Esquecera-se de quem era.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

As rosas - André Anlub




Rosa que se mostra como prosa
Beleza natural e notória
Básica em muitas paisagens
Componente bucólico de história infinita.

Rosa é tema de amor e vidas
Odor e cor que dominam
Rosa no espinho e de espinha.

Oh, rosas queridas...
Nos matrimônios ou nas despedidas
Podem fugir ao branco da paz
Rosas, rosadas... No furor margaridas.

André Anlub

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

FALHA DA PATA - Lariel Frota



-Uma peça de dominó pelo seu pensamento vô.
-Garoto sapeca, agora quem se assustou fui eu.
-Desculpe, foi sem querer. Você também tá de castigo?
-Eu não, acho que já passei da idade dos castigos, e você,  muito bravo com o seu castigo?
-Maaaaaaaaais ou menos.
-Como assim mais ou menos, ou está zangado ou não.
-Ah vô, a  mamãe disse que eu ia ficar uma semana sem video game pra pensar no que fiz de errado e  aprender a não falar mais palavrão a torto e direito. Quer saber, acho gente grande muuuuuito complicado:tem palavrão direito vô,  e no que ele é diferente do torto?
-Hum!
-Cê acha que depois de dar uma topada na pedra,que  quase arrancou  a ponta do meu dedão eu ia falar: “Ai meu anjinho iluminado, obrigado por essa topada?” Quando eu percebi já tinha soltado três palavrão, daqueles bem feio. Mas eu já escutei o papai, a mamãe e até você falar isso  quando joga truco com seus amigo.
 
                                                            (….)
-Meu bem, você não acha que exagerou no castigo? Coitado doClaudinho, além da dor  da topada, não poder jogar bola, ainda ficar uma semana sem video game?
-Tenho certeza que não exagerei. Tô tentando dar  um pouco de limite. Ele vai pensar no assunto e perceber  que as vezes é preciso engolir alguns sapos. Fará  bem pra ele aprender com essa experiência dolorosa, pode ter certeza.
-Então tá. Você é mãe,  deve saber o que tá fazendo!

                                                           (…)
-Vô, porque você ainda  tá aí sentado tão quieto?
-Ora, você num tá pensando no que falou  de errado como sua mãe mandou? Então, também tô procurando meus erros.
-Você fala  nome feio?
-Só  de vez em quando!
-Vô, olhando a pata ciscando,  tô tendo uma idéia da hora, quer ouvir?
-Hum hum!
-Sabia que trocando algumas letras um nome feio vira outra coisa, só tem que tomar cuidado com a letra “u”, porque fica meio parecido…
-Daí….
-Daí que na próxima vez que eu der uma topada, ou uma martelada no dedo, pra aliviar a dor  posso falar bem alto e ninguém vai perceber que tô xingando, quer aprender?

                                                (…)

--Não disse que o Claudinho e o meu pai tranformam até  castigo em brincadeira boa pros dois?
-É verdade meu bem, olha   a farra  deles! O que isso, letra de música?
-Sei lá, acho    que não. Deve ser algum joguinho inventado no tabuleiro de letras que os dois construiram nas férias  passadas.


                                             (…)
 
Os últimos raios de sol  preguiçosamente se escondem no horizonte dourado. A natureza se aquieta nos ruidos da noite  que chega de mansinho. Sob a goiabeira  carregada de frutos maduros,  velho e menino, menino e velho,  felizes navegam em letras trocadas,   juntando-se   no  tempo mágico  quando  amor é infindo. O som das palavras sem nexo  e    das gargalhadas,  ecoam   qual sintonia  perfeita do SENHOR DOS TEMPOS!

-Falha da pata…pata ca parau…falha da para….pata ca parau….falha da pata…pata ca parau…………………..

O ROUBO DO VARAL II - Lariel Frota


 -Você viu o desenho que fiz pra tia Line sobre o roubo do varal?
-Ela me mostrou, ficou muito bom. Como você diz: “da hora”.
-Percebi  que ela ficou contente. Vô, sabe que  olhando os passarinhos na goiabeira voltei a pensar no tal  roubo?
-Pensou em  caprichar mais  desenhando  uma goiabeira?
-Não vô, quero entender a cabeça do ladrão. Você num falou pra não julgar as pessoas com pressa pra não cometer injustiça?
-É verdade, falei e repito, acredito nisso.
-Então vô. Você já viu como a goiabeira é alta e forte? Tem um montão de galhos cheinho de folhas que é remédio pra dor de barriga, e que fazem uma sombra fresquinha quando tá muito sol….
-Além das goiabas que nascem  das flores miudas  e  vão crescendo, até amadurecer.
-Quando você coloca aqueles saquinhos de papel pro bichinho não ir morar lá dentro né?
-Isso mesmo, dá um trabalhão mas vale a pena. É só pensar nos tachos de goiabada que a vovô prepara no fogão a lenha.
-Hummmm, encheu minha boca de água. Então vô, continuo achando  que o ladrão do varal é burro, muuuuuuuuuuuuuito burro, de verdade verdadeira: burro!!
-Chi, agora ficou complicado.
-Vô, era só o ladrão aprender a  olhar os passarinhos pegando pedacinhos da goiaba e saindo voando bem rápido.
-Daí????
-Daí que  o burro  deveria pensar que quanto mais o passarinho “rouba” as goiabas, mais sementes vão ficando no chão, e pode nascer um monte de novas árvores. E melhor, a goiabeira grandona continua lá fazendo sua parte….num tá nem aí pra quem apanha as goiabas, come,  faz  tachos de doce, ou  pega as folhas pra fazer chá que é bom pra caganeira…ops, desculpe, desinteria.
-Dedução mais maluca sô!!!
-O que é dedução vô, remédio pra dor de barriga?
-Não..deixa pra lá,  quer saber de uma coisa? Essa conversa  toda me deu uma bruta vontade de comer um bom  pedaço de queijo com a goiabada que a sua vó fez.
-Puts…grande idéia vô…afinal o Varal está no lugar dele, a goiabeira também e o ladrão, ah  o ladrão,  tomara que tenha uma bruta cagane…ops,  desculpe de novo, desenteria, tem bastante  folha de goiaba pra fazer chá pra ele né????

O ROUBO DO VARAL - Lariel Frota




-Um pirulito de chocolate pelo seu pensamento Cláudinho.
-Ai vô, que susto!!! Num tô  pensando nada importante não, só na braveza  da Tia Line porque tentaram  roubar o varal dela.
-É , ela ficou bem zangada. Quer saber, com toda a razão.
-O  tal varal era muito caro? Gozado, parecia de  cordinha de nylon como os outros, não sabia que faziam varal com material valioso!
-E quem falou que era material valioso?
-Ora, se não for pelo  do valor,  porque ela ficou tão zangada e você disse que ela tá certa?
-É que era um varal de "estimação" se é que se pode falar assim.
-Varal de estimação??? Já ouvi falar de bicho de estimação, em estimar muito uma pessoa, agora estimar um pedaço de fio preso  nas duas pontas pra secar roupa, é a primeira vez!
-Pois é meu garoto. Aquele varal sua Line fez ela mesma, com todo o cuidado, num lugar onde o sol bate todas as manhãs, para secar as roupinhas do sua priminha Patrícia. Ela ainda nem tinha nascido e a avó já planejava  que as roupinhas ficassem secando  sob o canteiro de flores de campo e pés de camamila.
-Ah.....  Eu  acho muito legal aquele varal. Sabia que as vezes eu brinco dentro da minha caixa de pensamenos,  que aquele monte de roupinha cor de rosa, dança bem contente em cima daquelas florsinhas?
-Pois é, aí vem um desocupado e tenta roubar o varal?
-Vô, já sei. Fique aí que vou providenciar um negócio pra tia Line ficar feliz de novo!


                                                         (.......)
-Tia, olhe o que eu trouxe pra você  esquecer a maldade que tentaram fazer com o  seu varal.
-Já passou querido, na hora fiquei zangada, agora tá tudo bem. Que lindo  desenho!
-Você entendeu o que ele quer dizer, ou preciso explicar?
-Olha, acho entendi. Agora é sempre bom ouvir a palavra de quem fez não é?
-Então tia Line, o vovô me contou que você planejou o varal quando a Paty ainda tava na barriga da mãe dela. Você queria que as roupinhas ficassem sequinhas,  contentes e com cheiro bom não é isso?
-Sim querido.
-Então tia, você nem tinha sua netinha ainda, mas  já havia um montão de roupas  limpinhas na gaveta esperando pra  ela sujar e você pensou no varal pra secar essa roupa toda.
-Daí?

-Daí que o burro do ladrão não deve ter nada, nem nenê dentro de uma barriga, nem uma gaveta cheinha de roupas novas, nem canteiro de flor pra deixar a roupa feliz. Pior é tão burro, mas tão burro que acha que roubando um pedaço de varal vai conseguir tudo junto, mas ele não tem nada pra pendurar né?....Que foi cê tá chorando???? Já sei, igual ao meu vô, entrou um cisco no seu olho né....tchau tia Nine...gostou do desenho? Vou   brincar com o meu tabuleiro de letras, meus amiguinhos tão me esperando!!!
 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012


(Para Érico Veríssimo)

O dia abriu seu pára-sol bordado
De nuvens e de verde ramaria.
E estava até um fumo, que subia,
Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.

Depois surgiu, no céu azul arqueado,
A Lua – a Lua! – em pleno meio-dia.
Na rua, um menininho que seguia
Parou, ficou a olhá-la admirado…

Pus meus sapatos na janela alta,
Sobre o rebordo… Céu é que lhes falta
Pra suportarem a existência rude!

E eles sonham, imóveis, deslumbrados,
Que são dois velhos barcos, encalhados
Sobre a margem tranqüila de um açude…


Mario Quintana

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